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Semeando Esperança

Quem me segue, tome a cruz

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Quando fui nomeado bispo, em dezembro de 2010, por Bento 16, passei a usar uma “cruz peitoral”. Depois, no dia 28 de fevereiro, quando mais de vinte bispos se reuniram na Catedral de Maringá, para me fazerem bispo pela imposição das mãos e a Prece de Ordenação, presididos pelo querido Dom Jaime Luiz Coelho, recebi deste a cruz que lhe fora entregue no dia de sua ordenação episcopal (20 de janeiro de 1957). Essa cruz tinha – e continua a ter – um profundo sentido eclesial e, para mim, também afetivo. E assim, nós, bispos católicos, damos continuidade a uma antiga tradição, a de o bispo endossar sempre uma cruz. Contudo, é motivo de muita alegria perceber tantos cristãos usando cotidianamente uma cruz pendente de seus pescoços. Quero recordar, ainda, que em Ipanema – um dos balneários do litoral paranaense muito procurado pelos turistas – há uma igreja dedicada à Santa Cruz, uma das comunidades da Paróquia São José e São Sebastião, de paria de leste.  

Usar uma cruz sobre o peito ou dedicar uma igreja à Cruz gloriosa do Senhor requer muito mais do que fidelidade à tradição da Igreja. Como diz a canção: “No peito eu levo uma cruz, no meu coração o que disse Jesus”. Compreendemos, pois, que em primeiro lugar é preciso buscar ser fiel a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. A fidelidade a Cristo, portanto, dá sentido àquela fidelidade à Igreja: ser um povo resgatado por Jesus Cristo e assumir seu jeito de viver, sendo capaz de doar a própria vida por amor em favor dos irmãos e irmãs.

Tal fidelidade é proposta pelo Evangelho desse 24º Domingo do Tempo Comum: Mc 8,27-35. Jesus, no caminho para os povoados dos confins da Palestina com o mundo pagão, perguntou aos discípulos: “Quem dizem os homens que eu sou?” Responderam-lhe que as pessoas o consideravam um grande profeta. Então perguntou diretamente aos discípulos: “E vocês, quem dizem que eu sou”. Pedro, liderando o grupo, disse: “Tu és o Messias”. Jesus, então, proibiu que dissessem isso publicamente, para não alimentar no povo uma falsa ideia de messias: aquele que iria reunir um exército, armá-lo e guerrear contra os romanos. (Essa era uma forte concepção messiânica daquela época e presente na mentalidade de muita gente ainda hoje). Em seguida, ensina que seu messianismo passava pela perseguição, rejeição, morte e, ao final, a ressurreição. Não aceitar esse caminho de entrega total é se colocar como um obstáculo para Jesus, uma pedra de tropeço em seu caminho, um opositor. Diante disso, Jesus anuncia a toda pessoa que queira andar com ele: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perde-la; mas quem perde a sua vida por causa de mim e do Evangelho, vai salvá-la” (vv. 34-35).

Desse modo, a cruz é convite a experimentar a alegria de levar uma vida dedicada ao bem das outras pessoas. Tal convite questiona a respeito dos valores que orientam quem tem uma cruz pendurada em seu pescoço e os familiares em cuja casa está exposta a cruz de Cristo; os que utilizam as diferentes salas de reuniões onde costumeiramente existe uma cruz na parede, como por exemplo, na escola, numa sala comercial, em uma repartição pública, nos ambientes onde se exerce o poder legislativo, judiciário e executivo. 

A cruz, símbolo de salvação, jamais pode se tornar amuleto de proteção ou mero sinal, à sombra do qual se tomam decisões contrárias à dignidade das pessoas singularmente, da família e da sociedade. Cruz e cuidado com a vida estão necessariamente unidos.

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