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Semeando Esperança

Fazer quarentena, viver a Quaresma

Publicado

em

Bispo Dom Edmar Peron

Os últimos dois anos tornou popular a expressão quarentena: um tempo de isolamento – não necessariamente quarenta dias – imposto às pessoas infectadas ou supostamente infectadas com o novo coronavírus, a covid 19, a fim de cuidar da saúde pessoal e coletiva. Essa medida continua válida, mesmo que a vacina esteja colaborando eficazmente para a queda da pandemia.

Por outro lado, existe uma “quarentena” espiritual, a Quaresma, tempo de recolhimento e não de isolamento. Seu início se dá sempre na sétima quarta-feira, antes da Páscoa. Ela visa, portanto, primeiramente curar o coração em vista da celebração anual da Páscoa, celebrada no Tríduo Pascal da Crucifixão, Sepultura e Ressurreição do Senhor. 

A Quaresma, em seu simbolismo bíblico, é um tempo necessário para desabrochar algo novo em nossas vidas e na sociedade. A travessia do deserto, após a libertação da escravidão do Egito e do poder do faraó, durou quarenta anos (Nm 14,33-34; Dt 8,1-4); tempo para gerar um novo povo que entraria na terra prometida, não mais marcado pela infidelidade ao Senhor seu Deus. Para os cristãos, a essa referência bíblica, une-se aquela da permanência de Jesus no deserto: ele “foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser tentado pelo diabo” e jejuou “durante quarenta dias e quarenta noites”. E venceu Satanás (Mt 4,1-2.10-11). Essa é a fé que encontramos na oração litúrgica: “Jejuando quarenta dias, Jesus consagrou a observância quaresmal e, desarmando as ciladas da antiga serpente, ensinou-nos a vencer o fermento da maldade, para que, pela digna celebração do mistério pascal, passemos, um dia, à Páscoa eterna” (Missal Romano, Prefácio do 1º domingo da Quaresma).

O caminho espiritual da Quaresma, para dar frutos de vida nova nos batizados, precisa ser marcado pela escuta da Palavra de Deus – “O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4,4) – e também pela prática do jejum, da oração e da esmola (Mt 6,1-18). Essas três obras, porém, estão intimamente unidas, diz São Pedro Crisólogo (séc. 4º): “Há três coisas, meus irmãos, que mantêm a fé, dão firmeza à devoção e perseverança à virtude. São elas a oração, o jejum e a misericórdia. […] três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente. O jejum é a alma da oração e a misericórdia dá vida ao jejum. […] Quem pratica somente uma delas ou não pratica todas simultaneamente, é como se nada fizesse. Por conseguinte, quem ora também jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia.” 

A quaresma, portanto, não produz efeito algum na vida das pessoas se ela não for livremente vivida, a partir do coração: “Voltai para mim, diz o Senhor, com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração e não as vestes” (Jl 2,12-13). No Brasil, no início da quaresma se faz a abertura da Campanha da Fraternidade, que este ano convida-nos a considerar a realidade da educação – Fala com sabedoria, ensina com amor (Pr 31,26) –, a qual requer nossa mudança de mentalidade, ou seja, nossa conversão.

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