Toda experiência de vida em comunidade requer a paz. Essa manifesta-se onde não há ofensas ou, havendo, quando se alcança a reconciliação. Para isso, o Livro sagrado dos cristãos, a Bíblia, propõe uns passos – uma espécie de itinerário – para que a reconciliação aconteça quando “teu irmão pecar contra ti”. Tais passos podem ser encontrados no Evangelho deste Domingo: Mateus 18,15-20.
O primeiro passo deve acontecer na discrição de um encontro com quem ofendeu: conversar a sós com ele, demonstrado a verdade, revelando sua ofensa. Se ele aceitar a correção fraterna, “ganhaste teu irmão”, único objetivo desse itinerário. Não dando resultados, buscar-se ainda privadamente, a mediação de um ou dois irmãos, na certeza de que “onde dois ou três estiverem reunidos” Jesus está aí, no meio deles. Contudo, se também esse encontro não lograr a reconciliação será preciso a mediação da Comunidade, evitando-se desse modo a arbitrariedade de alguns líderes, que poderiam agir sem justificativas, apenas por questões pessoais. Este penúltimo recurso deve ser feito com discernimento, na oração, com a consciência de estar dando continuidade à missão de Jesus que veio “procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10). Finalmente, se também à comunidade a pessoa não der ouvidos ficará claro que ela rompeu obstinadamente a fraternidade, colocou-se fora da comunhão e precisa de uma última medida: ser deixado por um tempo separado da comunidade, na expectativa do arrependimento, base para a tão desejada reconciliação e, mais ainda, a salvação. Isso fez o Apóstolo Paulo (1Cor 5,1-5 e 1Tm 1,20) e indicou aos irmãos da Comunidade de Tessalônica que também o fizessem, porém, sem jamais tratar a pessoa como inimiga, mas corrigindo-a com fraternidade (2Ts 3,14-15).
Eis, pois, uns passos para que seja possível perfazer um caminho de reconciliação. Essa proposta é, claro, contrária à intolerância e à incapacidade de dialogar com o diferente. Na sociedade, na família e, lamentavelmente, nas igrejas muitas vezes a pessoa que pensa diferente é imediatamente tomada por inimiga e, por isso, deve ser eliminada, começando pela sua difamação até alcançar níveis piores de violência, como o assassinato. Motivos? Podem ser os mais banais como pertencer à torcida do time adversário ou ter votado em outro candidato ou em outro partido.Creio que seja possível ter por meta famílias e comunidades civis e religiosas reconciliadas. Sonhar com esse ideal e agir para que seja alcançado. Então, ressurgirá a paz, como fruto maduro da reconciliação; maduro e saudável! Ou estaríamos condenados a prosseguir pelas vias da intolerância, considerando-a atitude normal? Não! Como fizeram Francisco de Assis e Mohandas Karamchand Gandhi pode-se assumir no cotidiano atitudes capazes de gerar a paz e não a violência.