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Semeando Esperança

Ano Novo: crise e confiança

Grandes mudanças geradoras de algo novo normalmente exigem um longo e, por vezes, doloroso processo de purificação, ocasionado por uma “crise”.

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Ano Novo: crise e confiança

Grandes mudanças geradoras de algo novo normalmente exigem um longo e, por vezes, doloroso processo de purificação, ocasionado por uma “crise”. E o início deste novo ano traz consigo as marcas de uma grande crise sanitária, econômica, social e até eclesial que atingiu, sem distinções, o mundo inteiro, e que foi colocada às claras pela pandemia. Poderia este momento de crise tornar-se, insiste Francisco, “uma grande ocasião para nos convertermos e recuperarmos a autenticidade?”

“A crise [recordava Francisco no último 21 de dezembro] é um fenômeno que afeta a tudo e a todos. Está presente por todo lado e em cada período da história. Envolve as ideologias, a política, a economia, a técnica, a ecologia, a religião. Trata-se de uma etapa obrigatória da história pessoal e da história social. Manifesta-se como um fato extraordinário que provoca sempre um sentimento de trepidação, angústia, desequilíbrio e incerteza nas decisões a tomar. Como lembra a raiz etimológica do verbo krino, a crise é aquele crivo que limpa o grão de trigo depois da ceifa”. E a Bíblia não esconde os momentos de crise pelos quais passaram grandes personagens da história da salvação. Abraão experimentou-a e tornou-se nosso pai na fé (Rm 4); Moisés, o inseguro, foi o grande guia de Israel rumo à libertação. Elias, que pediu a morte, recebeu nova missão (1Rs 19). João Batista, acabrunhado pela crise, duvidou que Jesus fosse o Messias, (Mt 11,2-6). Paulo de Tarso, “abalado pelo deslumbrante encontro com Cristo no caminho de Damasco (At 9,1-19), é impelido a deixar as suas seguranças para seguir Jesus (Fl 3,4-10)” e a levar o Evangelho a todas as nações.

Enfim, o próprio Jesus experimentou fortes momentos de crise. Iniciou sua vida pública com a “experiência da crise vivida nas tentações”, sustentado pelo Espírito Santo (Lc 4,1-13). No Horto das Oliveiras, Jesus experimentou a solidão, o medo, a angústia, a traição de Judas e o abandono dos Apóstolos (Mt 26,36-50). “Por fim, vem a crise extrema na cruz: a solidariedade com os pecadores até ao ponto de se sentir abandonado pelo Pai (Mt 27,46). Apesar disso, é com plena confiança que entregou o seu espírito nas mãos do Pai (Lc 23,46). E este seu abandono total e confiante abriu o caminho da ressurreição (Hb 5,7)”.

Isso nos mostra que os momentos de crise, inclusive este que nos marca na abertura do Novo Ano, podem ser iluminados pela esperança, essa realidade que “muitas vezes o nosso olhar míope é incapaz de captar”. Se reconhecermos com coragem e humildade que o tempo da crise é um tempo de gestação do novo – da novidade do Espírito –, “então, mesmo no meio da experiência da escuridão, da fraqueza, da fragilidade, das contradições, da confusão, já não nos sentiremos esmagados, mas conservaremos sempre a confiança íntima de que as coisas estão prestes a assumir uma forma nova, nascida exclusivamente da experiência de uma graça escondida na escuridão. «Porque no fogo se prova o ouro; e os eleitos de Deus, no cadinho da humilhação» (Sr 2,5)”. Assim, a crise geralmente pode ter uma conclusão positiva: «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12,24).

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