A música marca a história um povo, ainda nem sempre positivamente. Nesses dias escutei com prazer uma dessas que marcam-nos positivamente, pela profundidade de sua melodia e poesia profética de Geraldo de Azevedo: a Canção de Despedida, composta em 1968. Longe de mim trair o seu sentido original. Mas peço licença a Geraldo para usar um dos seus versos, a fim de me ajudar a ler, por contraposição, a festa deste último Domingo do Tempo Comum: Jesus Cristo, rei do Universo. Usarei apenas este trecho: “Um rei mal coroado não queria o amor em seu reinado, pois sabia, não ia ser amado”. Quando um poder não é autêntico é como “um rei mal coroado” e a sua melhor expressão, o amor, não encontra espaço em seu reinado.
É possível, então, referir-se a Jesus Cristo como rei? Sim, mas de outro modo. Seu poder é autêntico: não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida para resgatar a pessoa humana (Mt 20,28); para ele, reinar é servir. Por isso sua coroa foi a de espinhos; é rei bem coroado. O seu reino, rezaremos na missa, é “reino da verdade e da vida, reino da santidade e da graça, reino da justiça do amor e da paz” (Prefácio da Oração Eucarística). Em seu reinado, o amor é a realidade mais querida. Um amor bem concreto, sem abstrações, como ouviremos no palavra da Bíblia, anunciada nesta festa de Cristo rei: Mt 25,31-46.
Segundo a Palavra, quando Jesus Cristo vier em glória, reunirá diante de si todos os povos. Então se manifestará os que poderão entrar no seu Reino e, infelizmente, também quem serão os que não poderão tomar parte dele. Entrarão os que serviram o rei ao socorrer o faminto e o sedento, o estrangeiro e o nu, o doente e o preso. Espantados, perguntarão a Jesus: “Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber… como estrangeiro e te recebemos em casa,… sem roupa e te vestimos,… doente ou preso e fomos te visitar?” Maior surpresa haverá na resposta do Rei verdadeiro, aquele sem trono: “Todas as vezes que fizestes isso a um dos menores de meus irmãos foi a mim que o fizestes”.
Surpreendente! Jesus nesta parábola que descreve o destino final da humanidade apresenta o amor de maneira bem específica: socorrer quem precisa. Por isso, diante desta página do Evangelho surgem alguns questionamentos que podem nos ajudar a crescer na vida espiritual. O que faço quando encontro alguém que precisa de mim? Estou ajudando alguém? O que tenho feito para que reine um pouco mais de justiça, solidariedade e amizade entre as pessoas? Poderia fazer algo a mais do que estou fazendo?
Cristo é, pois, o rei sem trono, coroado de espinhos e que reina onde há homens e mulheres capazes de amar e de se preocupar com as outras pessoas, em suas necessidades.
Enfim, manifesto publicamente minha saudação aos que foram democraticamente eleitos neste último domingo. Desejo-lhes que o exercício de seus mandados contribua imensamente para o bem estar de toda a população parnanguara, especialmente dos que vivem nas zonas mais periféricas de nossa cidade.
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