O surto do vírus monkeypox, transmissor da doença conhecida como varíola dos macacos, têm trazido várias dúvidas entre a população. Como se pega a doença? Qual a forma de tratamento? Como se prevenir? Há vacina contra a monkeypox? São esses alguns dos questionamentos que a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) procurou esclarecer na última semana por meio de conteúdo informativo feito junto à médica infectologista do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Marília Santini.
Desde julho de 2022, em meio à pandemia da Covid-19, foi decretada situação de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS) devido a outro vírus: o monkeypox. Casos da enfermidade já vinham ocorrendo desde maio no mundo todo, confirmando os primeiros casos em junho no Brasil e em julho no Paraná. Até agora, nenhum caso da varíola dos macacos foi confirmado no litoral paranaense.
A médica Marília Santini explica que as exatas formas de transmissão da doença ainda não são bem conhecidas junto à comunidade científica, que está tentando apurar mais informações sobre a enfermidade. “O que a gente sabe da história da monkeypox na África é que é necessário um contato íntimo e prolongado com a pessoa que está doente e com as lesões. Na prática, isso significa morar na mesma casa, dormir na mesma cama, manter relações sexuais, cuidar de uma criança, cuidar de um idoso. Não basta você estar sentado ao lado de alguém que está com monkeypox durante alguns minutos ou estar ao lado dessa pessoa no mercado, por exemplo. O contato realmente precisa ser íntimo e prolongado. A doença também pode ser transmitida durante a gravidez ou no parto, pelo contato íntimo que a mãe tem com o bebê nesse momento”, detalha.
“A gente não sabe exatamente se existem outras formas de transmissão mas, se existirem, certamente não são tão fáceis. Algumas pessoas com monkeypox têm o vírus na orofaringe. Neste caso, o vírus poderia ser transmitido por gotículas respiratórias durante a relação íntima e prolongada, através do beijo ou respiração próxima? Provavelmente sim, mas certamente não é a forma mais eficiente de transmissão”, pondera a estudiosa da Fiocruz.
Santini afirma que a forma mais eficiente de pegar a doença é ter contato com as lesões típicas da monkeypox ou com as secreções. “Possíveis mecanismos de transmissão por vias aéreas – através de tosse, espirro ou fala – ainda não são bem compreendidos e serão necessários outros estudos para entendermos mais a respeito”, acrescenta.
Sintomas
“Os primeiros sintomas são inespecíficos, duram poucos dias – de 1 a 3 dias – e são comuns a qualquer outra virose, como febre, dor de cabeça, cansaço, um mal-estar geral. Logo em seguida, aparecem lesões na pele. Podem ser poucas lesões, uma ou duas, ou podem ser muitas – mais de 60, por exemplo. Essas lesões podem surgir em qualquer local do corpo, na pele ou em mucosas: perto do ânus, dentro da boca, perto da uretra, cada pessoa manifesta de uma forma”, detalha.
A médica ressalta que as lesões surgem como manchas pequenas vermelhas, onde crescem bolhas cheias de secreção. “Em seguida, essas bolhas se rompem, formam uma crosta, uma casquinha, e depois se curam. Esse processo – entre aparecer a primeira manchinha vermelha, sumir tudo e ficar sem lesões – leva de duas a quatro semanas, normalmente”, salienta a estudiosa.
Diagnóstico e tratamento
A médica explica que o exame para detecção do vírus é simples, sendo feita uma coleta com cotonete na lesão da pele. “Você só vai ser capaz de fazer um diagnóstico de monkeypox se aparecerem as lesões na pele, porque o exame é feito na lesão. Não é um exame de sangue, não é uma sorologia. Uma pessoa que acredite estar com sintomas de monkeypox, porque notou o aparecimento das lesões, deve procurar um serviço de saúde para fazer o exame. A amostra vai para um laboratório de referência e o resultado é encaminhado para a unidade que solicitou o exame em um prazo de dois ou três dias”, esclarece.
Marília Santini afirma que o tratamento da monkeypox foca nos sintomas. Por exemplo, se o paciente tiver dor ou febre, se receitam analgésicos e anti-inflamatórios normais. “Não é recomendado usar nada sobre as lesões – nem pomada, nem creme. Também não é recomendado cobri-las, para que elas possam secar mais rapidamente e não infeccionar. Além disso, é importante evitar traumas nessas lesões, com o uso de lâminas de barbear ou fazer depilação, por exemplo”, explica.
“Pacientes com muita coceira devem procurar manter a unha curta para não machucar. E uma recomendação importante para aqueles que usam lente de contato é suspender o uso durante o período de infecção. Ao colocá-la, o paciente pode acabar levando o vírus para o olho sem querer, o que pode causar lesões na vista. Essa é uma complicação conhecida que pode levar até à cegueira”, afirma a infectologista.
Como se proteger?
Atualmente a principal forma de prevenção contra o vírus é saber do risco, saber que para pegar a doença é necessário um contato prolongado e íntimo. “É importante ficar atento se alguém com quem você se relaciona – alguém que mora na sua casa, com quem você namora ou uma pessoa com quem você tem relações sexuais, por exemplo – tem alguma lesão e pode estar doente. Além disso, enquanto não conhecermos melhor todas as formas de transmissão da monkeypox, outras medidas, como usar máscara e higienizar as mãos com frequência, também são recomendadas”, explica.
“Não é possível afirmar, hoje, o quanto isso protege para monkeypox ou não, porque a importância de cada tipo de transmissão ainda não é completamente conhecida”, afirma a médica.
Há vacina?
Apesar de não haver um imunizante específico contra a monkeypox, Santini ressalta que há pesquisas realizadas na República Democrática do Congo, país onde a monkeypox é endêmica, que demonstraram “que pessoas que tomaram a vacina para a varíola humana tinham cerca de 85% de proteção também contra a monkeypox”, informa. “Teoricamente estariam protegidas ou, se pegassem, teriam quadros com poucas lesões, menos floridos clinicamente. Não sabemos se isso vai se repetir no surto atual, que está afetando um número bem maior de pessoas”, acrescenta.
“No momento o maior número de casos é justamente entre pessoas com menos de 40-50 anos, que não receberam a vacina contra a varíola, porque a partir da época em que nasceram não havia mais vacinação. Se você me perguntar se isto está ocorrendo por conta da vacina, eu não serei capaz de responder, porque é algo que ainda não se sabe. Mas é bem provável que haja essa proteção cruzada, porque os vírus são muito parecidos. Provavelmente a proteção cruzada existe”, finaliza a médica infectologista.
Com informações da Fiocruz