A sabedoria se revela no agir com bom senso e na retidão. Ela não acompanha os diplomas, pois não está ligada, necessariamente, ao grau de instrução de uma pessoa. Quem é sábio “tem os olhos abertos, mas o insensato caminha na escuridão” (Ecl 2,14). Isso Jesus nos ensina no Evangelho deste domingo: Lucas 12,13-21.
O desenvolvimento dos estudos bíblicos nos dá condições para conhecer melhor a realidade social e econômica do tempo de Jesus, aquela mesma que ele viveu. Enquanto em algumas cidades crescia a riqueza, nas aldeias aumentava a fome e a miséria. Enquanto os camponeses ficavam sem terras, os latifundiários construíram celeiros cada vez maiores.
Jesus nos mostra como a ganância é uma atitude profundamente contrária ao projeto desejado por Deus, o qual tem no coração um mundo mais humano para todos. A parábola do Evangelho denuncia os abusos cometidos pelos latifundiáriose deixa claro como é insensato este modo de viver. “Atenção! Tomem cuidado contra todo tipo de ganância, diz Jesus, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.
Um rico proprietário de terras é surpreendido por uma grande colheita e não sabe como agir. “O que vou fazer?” A melhor solução que ele encontrou foi destruir seus celeiros e construir outros maiores. Armazenará ali toda a sua colheita, acumulando, assim, bens para muitos anos. De agora em diante, só viverá para desfrutá-los, dizendo a si mesmo: “Meu caro, tu tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, aproveita!”. Porém, de forma inesperada, Deus interrompe os seus projetos: “Insensato, esta mesma noite, pedirão de volta a tua vida, morrerás. E para quem ficará tudo o que acumulaste?”.
Este homem rico reduz sua existência a acumular e a desfrutar os bens que juntou. No centro da sua vida, está ele sozinho e seu bem-estar. Deus está ausente. Os trabalhadores que trabalham as suas terras não existem. As famílias das aldeias que lutam contra a fome não contam. O julgamento de Deus é retumbante: esta vida é apenas tolice e insensatez. A ganância é loucura, e não sabedoria.
As consequências são terríveis, também em nossos dias: pouco a pouco vão sendo banidas da sociedade a cooperação, a solidariedade e a busca do bem comum. Crescem a miséria e a depressão. E o que dizer da destruição da natureza, provocada pela ganância de uns poucos grupos, em nome de um pretenso “progresso”?
Com sabedoria se constrói a casa (Pr 24,3), mas a ganância pode destruí-la.
Enfim, neste domingo, dirijo uma especial e carinhosa saudação a todos os padres, pois, na Igreja Católica, no dia 4 de agosto, festa de São João Maria Vianney, um pároco admirável, se comemora o Dia do Padre. A esses homens dedicados – e nem sempre compreendidos – minha gratidão e oração. Coragem, queridos padres! Deus os abençoe.