A história de Paranaguá é também a história do Paraná e do Brasil. Personalidades históricas e fatos de extrema relevância para o contexto geográfico e cultural ocorreram na cidade-mãe do Paraná, que completa nesta sexta-feira, 29, um total de 374 anos de idade. Hamilton Ferreira Sampaio Júnior, historiador e genealogista, concedeu entrevista à Folha do Litoral News onde trouxe informações não somente sobre parnanguaras ilustres, que hoje são nomes de muitas ruas e locais em Curitiba e no Paraná, como também sobre a relevância de Paranaguá para a criação de diversas entidades, reforçando a importância de que a sociedade valorize mais a história e a cultura do município.
Bacharel em Teologia e formado em História, Hamilton Junior é professor, membro da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia, bem como sócio-correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá (IHGP), sendo biógrafo, genealogista, escritor e historiador.
Ele escreveu o Livro “Entre o Compasso e o Esquadro a Gênese das Lojas Maçônicas no Paraná de 1830 a 1930” edição 2017, bem como mais de 170 biografias de personagens do Paraná, algo que pode ser acessado no site www.generabrasil.com.br . Atuando em diversos projetos na área de educação e cultura, Hamilton esteve à frente da montagem do “Museu do Grande Oriente do Brasil – Paraná (GOB-PR)”, entregue em julho deste ano.
“Paranaguá foi a primeira cidade fundada no território que hoje é o Paraná, em 1648, época em que fazíamos parte da Província de São Paulo, o Paraná não existia ainda. A cidade de Curitiba se elevou a vila apenas no ano de 1693, 45 anos depois de Paranaguá, então é nítido que Paranaguá era o centro de convergência para a interiorização do que viria a se tornar o futuro Paraná. Paranaguá sendo fundada em 1648, é a cidade mais antiga do Paraná”, explica o historiador.
Segundo o estudioso, várias representações presentes na cidade reforçam a importância histórica de Paranaguá. Uma delas é o Pelourinho, que era considerado um símbolo da “Justiça do Rei”. “Ele foi erigido em 6 de janeiro de 1646, dois anos antes fundação propriamente dita. De acordo com Hamilton, isso pode ser percebido no texto do historiador Vieira dos Santos, que relata sobre a ereção do “Pelourinho na Vila de Paranaguá”.
Segundo ele, em 1643 Pedro Taques de Almeida Paéz Leme, que era o melhor genealogista do Brasil, destacou a formação de Paranaguá como advindos de Cananéia – SP e junto a índios carijó que sempre habitaram a região. Por volta de 1646, com a dificuldade de ida até a Vila de Cananéia, foi requerida a emancipação de Paranaguá, com inauguração do Pelourinho em 6 de janeiro do corrente ano, por ordem do Rei de Portugal, Dom João IV, e de Duarte Correia Vasqueáneas, governador na época do Rio de Janeiro.
Personalidades parnanguaras
Hamilton Junior ressalta que Paranaguá é uma terra de nascimento de diversas personalidades essenciais para a história do Paraná e do Brasil. Entre eles, constam, por exemplo: Júlia da Costa, a primeira poetisa do Paraná nascida em 1.º de julho de 1844 em Paranaguá, Hugo Simas, jurista e especialista em Direito, nascido no município em 23 de outubro de 1883. Além disso, há figuras importantes nascidas no município como Santos Andrade (comerciante e político nascido em 9 de abril de 1842, Fernando Simas (nascido em 24 de abril de 1851 sendo jornalista e farmacêutico), Nestor Vitor (com nascimento datado em Paranaguá em 12 de abril de 1868, sendo poeta, crítico, romancista e contista).
A cidade-Mãe do Paraná é também onde nasceu Visconde de Nácar em 15 de fevereiro de 1813. Ele foi vice-presidente da Província do Paraná e um dos políticos mais conhecidos do Paraná. Bento Munhoz da Rocha Netto também nasceu no município em 17 de dezembro de 1905 (foi engenheiro, professor e sociólogo), assim como Cândido de Abreu, nascido em Paranaguá em 2 de agosto de 1856 (foi engenheiro e político).
“Temos vários nomes de personalidades históricas nascidas em Paranaguá. Esses são somente alguns deles”, reforça o genealogista.
Paranaguá e Curitiba
Hamilton Junior ressalta que a formação de Curitiba tem relação com a ida de parnanguaras à atual capital do Paraná, sendo que, inicialmente, muitas pessoas importantes de Paranaguá iam a Curitiba como forma de lazer em sítios, por exemplo, e lá acabaram ficando. “Muitos parnanguaras tinham áreas na região de Serra do Mar acima, alguns se deslocavam para Serra acima devido ao clima mais ameno no verão e, também porque era um local central de convergência entre as localidades, uma espécie de entroncamento para a distribuição do comércio”, explica.
“A exportação de erva-mate para os mercados uruguaio, argentino, paraguaio e chileno favoreceram o incremento à economia do Paraná, cuja atividade principal era o comércio de gado nos anos de 1800, enquanto continuavam as representações e a luta no Parlamento, os deputados prometiam a emancipação da futura província. O projeto de criação da província do Paraná, que teria como capital provisória (que depois seria confirmada) o município de Curitiba, foi definitivamente promulgado a 28 de agosto de 1853”, explica Hamilton.
Maçonaria
Paranaguá é também o berço da Maçonaria paranaense. Segundo Hamilton Junior, a Ordem “teve grande importância na formação do Paraná”, explica. “A primeira Loja Maçônica no território que seria o Paraná foi na Comarca de Paranaguá em 1837 na Loja União Paranaguense, teve grandes nomes da época alguns eram deputados provinciais em São Paulo, podemos dizer que esta Loja União Paranaguense existiu até 1858 e, após isto tivemos em Paranaguá a Loja Fraternidade Paranaguense e, finalmente a Loja Perseverança fundada em 5 de maio de 1864”, ressalta.
As ações feitas pela Maçonaria também repercutiram em fatos históricos no Paraná. Um exemplo ocorreu em 1867, quando a Loja Maçônica Perseverança, existente até hoje em Paranaguá, por sugestão do Dr. Alexandre Bousquet, que era presidente/Venerável Mestre da Loja decidiu que, “todos os fundos, que excediam a seus gastos, seriam exclusivamente usados em libertar escravos, unicamente do sexo feminino, com quatro anos, ou menos”, reforça.
“Assim em 5 de outubro de 1870, a Loja Perseverança tornou livre as primeiras meninas, Lúcia, filha da escrava Maria, pertencente à Francisca Miranda e, posteriormente, foi liberta a menina Zelina, filha de uma escrava pertencente a Prudêncio Ferreira, foram testemunhas o padre Albino José da Cruz e, João Francisco. Como um rastilho de pólvora seguiu-se este exemplo para muitas lojas no Império do Brasil, sendo que a Loja Perseverança foi a percussora deste movimento”, afirma o historiador.
O Clube Republicano, de Paranaguá, foi fundado por maçons em 1870. Outras lutas históricas, como a do Movimento Republicano no Brasil, teve participação da Maçonaria parnanguara. “A Loja Perseverança tem correspondido no decorrer de sua existência com os princípios humanitários e supremos, porque amparou à Família a Pátria e a Humanidade. Amparou a Família: criando escolas, fundando, por intermédio de alguns de seus obreiros, o Hospital da Cidade, socorrendo viúvas e órfãos. Amparou a Pátria: porque veio ao interesse de seus filhos, na Abolição e na República; promoveu casamentos civis por ocasião da sua obrigatoriedade, combateu os regimes autocratas. Amparou a Humanidade: porque reagindo contra qualquer forma de prepotência, defendeu a liberdade humana; defendendo os direitos constitucionais. Debatendo-se pela Liberdade e Igualdade, edificou o seu verdadeiro Templo da Fraternidade humana”, complementa.
Valorização da história deve ser maior
No aniversário de 374 anos de Paranaguá, Hamilton Junior reforça que a população parnanguara e paranaense deve valorizar mais a sua própria história. “Afinal, parafraseando a frase ‘Não se pode amar o que não se conhece’, vejo que a história de Paranaguá se confunde com a História do próprio Paraná e do Brasil, hoje existem algumas poucas entidades resistentes aqui em Paranaguá”, frisa.
“Cito algumas apenas e, peço escusas de estar esquecendo alguma, cito as que tenho mais conhecimento: O Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá, Clube Literário, Centro de Letras de Paranaguá, temos também o Rotary e, a Maçonaria que são grandes incentivadores de cultura tanto local, como regional, acredito que os gestores públicos possam entender que a História pode sempre nos lançar mais ao futuro com os ensinamentos de nossos antepassados e, valorizando seu legado na formação de nossa gente”, salienta Hamilton Junior.
O historiador reforça também que acervos históricos e casarios de Paranaguá possuem uma importância única para a história do Paraná e do Brasil. “Podemos viajar passando na Rua da Praia em frente ao Palacete Mathias Bohn, apenas um exemplo, imaginando tudo que foi tratado ali e, todo o legado. Isso ocorre também ao vermos o Palácio do Visconde de Nacar, também no Museu do MAE, antigo Prédio dos Jesuítas e, tantos outros que seria impossível para mim citar todos. Paranaguá é a cidade onde tudo começou, a cidade respira história, necessita somente de mais um pouco de carinho e, de que seus habitantes entendam a importância deste Museu ao Ar Livre e o valorizem”, finaliza.