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Entrevista

Fonoaudióloga defende o fortalecimento da rede de apoio para o incentivo à amamentação

Mães, pais e familiares recebem orientações no Hospital Regional do Litoral

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No Hospital Regional do Litoral (HRL), em Paranaguá, são registrados, em média, 300 partos ao mês e todas as mães, assim como os pais e demais familiares que acompanham, recebem orientações sobre a amamentação logo após o nascimento dos bebês. O trabalho é realizado por meio de uma equipe com profissionais de diversas áreas que dão todo o suporte e incentivo que as mães precisam nos primeiros dias de vida das crianças.

A fonoaudióloga Ariane Schadeck Sampaio tem 25 anos de profissão e é uma dessas profissionais que fazem esse trabalho de conscientização sobre a importância do aleitamento materno. O Agosto Dourado é voltado para a campanha de amamentação, realizada no mesmo mês em que é celebrada a Semana Mundial do Aleitamento Materno, de 1.º a 7 de agosto, promovida pela OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em mais de 170 países. Ariane trabalha nesta área específica há 10 anos e, nesta entrevista, mostra quão é necessário quebrar os mitos sobre a amamentação e fortalecer essa rede de apoio na saúde pública.

Ariane Schadeck Sampaio atua há 10 anos no Hospital Regional do Litoral (HRL)

Folha do Litoral News: Qual o papel do fonoaudiólogo no incentivo à amamentação?

Ariane: A Fonoaudiologia atua nas funções de mastigação, respiração e deglutição, que é o ato de engolir, a sucção, a postura de cabeça para favorecer um bom desenvolvimento de arcada dentária e face, preparar esses órgãos para a fala. O fonoaudiólogo auxilia na amamentação para uma prevenção para lá na frente não ter danos na face da criança, favorecendo um bom desenvolvimento dessas funções.

 

Folha do Litoral News: Existe uma equipe multidisciplinar no Hospital que visa a apoiar o aleitamento materno? De que forma é realizado esse trabalho?

Ariane: No Hospital, nós formamos o GPAM (Grupo de Promoção do Aleitamento Materno), formado por fonoaudióloga, psicóloga, assistente social, enfermeira e fisioterapeuta, uma equipe técnico assistencial, para apoiar e incentivar o aleitamento materno. A gente acredita muito nisso, inclusive temos uma sala para palestras com orientações. Quem passa por aqui conhece o trabalho e as mães precisam estar com os bebês mamando razoavelmente para receber alta.

Ariane Schadeck Sampaio tem 25 anos de profissão e é uma das profissionais que atuam na conscientização sobre a importância do aleitamento materno

Folha do Litoral News: Quais os benefícios do leite materno?

Ariane: Na fase escolar, a criança que foi amamentada também estará mais preparada. O cérebro se desenvolve melhor com o leite materno do que com o leite artificial, porque o leite da lata é totalmente químico e o leite materno é um alimento completo, ideal, por isso tudo vai se desenvolvendo no bebê. Como a gente trabalha também a questão da fala, da mastigação, da linguagem, da escrita, vai muito além da alimentação. 

 

Folha do Litoral News: Quais as maiores dificuldades que as mulheres encontram na amamentação?

Ariane: Todo mundo acha que quando nasce, coloca no peito e o bebê sai mamando. Mas, não é bem assim. Temos mães que encontram dificuldades, muitas são adolescentes, já tivemos mães de 11 anos; depende muito do formato do peito e de diversos fatores. Cerca de 90% dos bebês que recebemos saem mamando no peito. Por isso, é importante o fortalecimento da rede de apoio, para quando a mãe sair do hospital ela encontre ajuda nas unidades de saúde. Como o Hospital Regional é referência aos sete municípios, temos parcerias com os municípios de Pontal do Paraná. Isso que a campanha também quer, fazer esse apoio porque tem muito mito e muita história acerca da amamentação. Não existe, por exemplo, leite fraco, a natureza é muita perfeita, se o corpo da mulher gerou um ser humano, então ele tem o alimento, umas mais, outras menos. Nesses primeiros momentos existe a dor do parto, as mulheres chegam exaustas, com dor, e por isso é importante o incentivo para ter sucesso lá na frente. A família é muito importante nesse processo, quem tiver acompanhando a mulher no hospital participa da palestra.

 

Folha do Litoral News: O leite materno deve ser alimento exclusivo até os seis meses do bebê e complementar até os dois anos. Qual a orientação para as mães que precisam retornar ao trabalho e querem seguir essa recomendação?

Ariane: A partir dos dois anos pode introduzir as papinhas e continuar com o aleitamento materno mesmo depois dos dois anos. No serviço público, as mulheres conseguem ficar seis meses de licença, no serviço privado, as empresas que são cidadãs também são seis meses. A gente sabe que as empresas precisam favorecer uma sala de amamentação para quando as mães voltam ao trabalho. No ano passado, a campanha teve como tema a possiblidade da mãe amamentar e trabalhar. Existem técnicas e recursos para isso, a lei também determina que as mães possam ter dois intervalos de 30 minutos, que é pouco, porque o aleitamento materno tem que ser livre demanda. É possível tirar o leite, armazenar na geladeira por 12 horas ou no freezer por 15 dia e depois fornecer ao bebê no copinho e não na mamadeira, porque o estômago do bebê é muito pequenininho.

Agosto é o mês de incentivo ao aleitamento materno

Folha do Litoral News: Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), somente 40% das crianças têm amamentação exclusiva nos seis primeiros meses de vida. Como reverter esse quadro?

Ariane: Somente com o fortalecimento da rede de apoio. Porque só com a informação não adianta, falar é uma coisa e praticar é outra. É um aspecto cultural, existem muitos mitos e com a rede elas vão entendendo melhor. Na amamentação tem que ser um dia de cada vez, no tempo do bebê. Muitos acham que por parecer uma água nos primeiros dias o leite não vai sustentar, mas não é verdade. Para aumentar esse índice é preciso envolver todos os municípios, as associações de bairro, as empresas, os pais também precisam entender. A mamadeira e a chupeta já estão no imaginário, na cultura das mães e é difícil quebrar, é um caminho a ser percorrido sempre.

 

Folha do Litoral News: O litoral do Paraná ainda não conta com um banco de leite materno. Quanto a oferta desse serviço pode contribuir com a promoção do aleitamento, na sua opinião?

Ariane: Seria maravilhoso. A gente ia reduzir muito a oferta de complemento do leite da lata, e as nossas crianças receberiam leite materno que é o ideal, que é um alimento completo que o recém-nascido precisa. O leite materno tem os anticorpos, as vitaminas, as proteínas, tudo que ele precisa. Os bebês vão ter um desenvolvimento melhor, vão ficar mais saudáveis, a alta hospitalar será mais precoce porque os bebês que ficam na UTI neonatal poderiam receber esse leite e não o artificial. Hoje, nós fazemos a ordenha na mãe quando o bebê está nessas condições, porque não temos onde armazenar. As mães que têm muito leite têm que esgotar e não há o que fazer, precisa jogar fora, porque muitos bebês não dão conta de mamar toda a quantidade que a mãe produz. Cada vez que mama produz mais ainda, por isso seria um ganho maravilhoso. O banco de leite está dentro da sustentabilidade, não produz lixo, não gasta luz, não polui o meio ambiente, é uma questão de saúde pública, para as mães diminui o risco de hemorragia no pós-parto. Seria bom para todo mundo.

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