Entrevista

Médico e super-herói: a importância do atendimento humanizado e do respeito ao paciente

Nos últimos anos o profissional foi destaque nas redes sociais e mídia estadual por usar jalecos de super-heróis e atendimento humanizado às crianças de Paranaguá (Foto: Divulgação)

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Dr. Jonathan Aredes atua na rede pública do município desde 2011 e destaca ser rondoniano de nascença e parnanguara por amor

Jonathan Wilian de Sá Aredes, de 33 anos, é nascido em Colorado de Oeste – RO, onde se formou em Medicina em 2011, mesmo ano em que decidiu vir para Paranaguá exercer sua profissão. Médico clínico-geral e pós-graduando em Pediatria, ele é casado com a parnanguara Fernanda Ferreira Marques Aredes, enfermeira e trabalha com ele no consultório, e destaca a importância do atendimento humanizado aos pacientes. Atuante na rede pública e privada de saúde, Aredes se destacou por se fantasiar de super-herói para atendimento descontraído às crianças, algo que repercutiu na mídia nacional e nas redes sociais.

Jonathan Aredes frisa que, apesar de ser de Rondônia, ele já se considera parnanguara e destaca tópicos importantes na área de medicina e pediatria, como a amamentação, as doenças de inverno e importância de atender os pacientes com respeito e bom humor, sem jamais esquecer a parte técnica. Confira a entrevista:

Folha do Litoral News: Qual a importância do médico ser mais próximo do paciente e realizar um atendimento humanizado?

Dr. Jonathan: A humanização é importante e abrange o fato de conversar com o paciente, tendo um contato mais direto e com respeito. É uma forma de estreitar o relacionamento, os laços com o paciente. A humanização é uma palavra que deveria ser usada com frequência não só na medicina, como na saúde em geral e em outras áreas profissionais como a educação, segurança, entre outras. A humanização nada mais é do que você ter empatia, trabalhando na consciência de que o outro que está ali está precisando de você. Acho bacana poder tentar trazer uma forma lúdica no atendimento, principalmente com a criançada.

Folha do Litoral News: De onde surgiu a ideia de atender as crianças com fantasias de super-heróis e como isso possibilita um melhor atendimento aos pacientes?

Dr. Jonathan: Desde criança eu sempre fui fã de super-heróis. Acredito que na minha idade boa parte das pessoas segue fã, mas quando crescemos acabamos perdendo um pouco dessa parte lúdica, viramos adultos demais. Eu era assim também, mas a minha esposa deu a ideia de usar um jaleco de super-homem, que inicialmente eu não aceitei falando do meu tamanho e a minha idade, que eu não serviria para isso, mas ela foi trabalhando isso comigo e me convenceu. Então eu usei uma vez só. A aceitação foi tão bacana e maravilhosa que aposentei o branco depois que minha esposa me deu este presente de aniversário. Comecei a usar os trajes de super-heróis e isso repercutiu muito nas redes sociais. Em um primeiro momento isso foi assustador, com um monte de mensagens no WhatsApp, milhares de pessoas me adicionando no Facebook, então uma tia da Fernanda me falou para eu ver nas redes sociais os elogios, aí eu vi a repercussão gigantesca. Depois veio a RPC, emissora televisiva estadual que fez matéria, e aí aumentou ainda mais a repercussão por ser algo estadual. Eu gostei, dá para ver que eu sou um pouco tímido, mas eu consegui adaptar legal e de uma forma positiva, não na questão para "aparecer", mas sim na questão do reconhecimento.

Folha do Litoral News: Apesar de você ser de Rondônia, já reside desde 2011 na cidade e destaca sua identificação com Paranaguá. Como isso ocorreu e ocorre até hoje?

Dr. Jonathan: Eu escutei de uma médica de Paranaguá que trabalhou comigo que há pessoas com personalidade muito fácil de agregar e se misturar em um ambiente, aqui em Paranaguá isso se chama "parnanguarismo", algo que eu nunca tinha escutado falar, ela falou para mim que eu agia com "parnanguaridade", e aí eu falei "meu Deus, o que é isso?", mas ela me explicou, disse que eu sou uma pessoa fácil de lidar e que Paranaguá tinha uma carência grande de atenção. Foi natural o acolhimento que recebi, quando cheguei já me senti em casa, logo nos primeiros meses eu não senti a diferença, achei que eu estava na minha cidade. Lido muito bem com as pessoas, com os meus pacientes, hoje me sinto tão parnanguara que não me vejo fora daqui, nem na minha cidade natal eu penso em voltar, sou mais daqui do que de lá.

Folha do Litoral News: Estamos no Agosto Dourado, dedicado à importância da amamentação. Como observa a importância desta campanha?

Dr. Jonathan: A amamentação nós vemos como prioridade na vida do recém-nascido, pois é o primeiro contato com alimentação extra-uterina da criança, então ela está acostumada no útero a se nutrir pela placenta por nove meses, uma maravilha, mas quando ela sai é tudo novo, um mundo diferente, e o principal e o primeiro contato que ele vai ter com a mãe é a amamentação. Antes da parte nutricional, converso com as mãezinhas que é o emocional que está em jogo, depois do emocional começa o nutricional. No sentido nutricional é excelente, é importantíssimo, pois nos seis primeiros meses todo o leite que a mãe produz é totalmente completo, não precisa de mais nada, ele tem as vitaminas e os minerais, ele mata a sede, é perfeito. Até seis meses de idade a criança vai desenvolver os principais reflexos neurológicos, psicológicos e do desenvolvimento em geral a partir dos nutrientes que a amamentação oferece para a criança. A partir dos seis meses começa a introdução de outros alimentos, mas mesmo assim até os dois anos de idade ainda é indicado o leite materno, justamente pela qualidade que este leite tem. É importante manter que a amamentação é importante para a criança e destruir alguns mitos em torno de que quem amamenta terá problemas ou outras questões estéticas, é tudo mito. Faça isso pela criança.

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Folha do Litoral News: Estamos no período de inverno, quais doenças mais comuns neste período entre as crianças, bem como qual a importância de consultar um médico em caso de sintomas mais graves?

Dr. Jonathan: A gente denomina isso como doenças sazonais que são relacionadas com o clima. Cada clima tem suas particularidades em doenças. Em Rondônia, por exemplo, não temos inverno, lá as doenças são diferentes, as de via respiratória são relacionadas às queimadas, aqui não, elas são relacionadas ao inverno. Os sintomas das doenças sazonais de inverno no Paraná e em Paranaguá, que é uma região portuária, são muito parecidos. Uma gripe começa com sintomas iguais aos da dengue, sarampo, Zika vírus, chikungunya, rubéola, todos começam com febre, pode dar uma coriza, o olho fica ardendo, dá uma tossezinha, enfim, vai depender do pai prestar atenção na evolução desses sintomas. Caso, por exemplo, a criança esteja com uma febre que não cessa com antitérmico, passando dos 39ºC, estar vomitando, aparecerem manchas vermelhas pelo corpo, enfim, são sinais para você tomar ciência que existe a necessidade de levar seu filho a um pronto-atendimento ou profissional médico para ser melhor avaliado. Mas é comum, a gente não alardear as pessoas, pois doenças típicas de inverno existem desde que o mundo é mundo, a criança vai espirrar, vai tossir, nenezinho vai chorar, porque é comum acontecer. Notando algo diferente, aí sim, procura atendimento que será importante para a criança.

Folha do Litoral News: Para finalizar, o senhor é médico e funcionário público, como observa a importância do atendimento humanizado, com bom humor ao paciente em um período em que algumas vezes infelizmente o diálogo e o respeito não existem?

Dr. Jonathan: Durante a faculdade eu aprendi que 50% da sua consulta está com você mesmo, é sua relação médico-paciente, se você começa uma consulta desanimado, de cabeça baixa, automaticamente o paciente vai se retrair, isso é normal, inerente ao ser humano. Agora, se você chegar ao consultório e o médico já brincar com você, já muda um pouco a visão e, no meu caso, que eu lido hoje em dia mais com a Pediatria no sistema público onde o fluxo é grande, para mim foi um achado grande a questão lúdica. Às vezes, eu estar vestido de super-herói eu agrado mais ao pai do que à própria criança, pois o pai chega e pode pensar 'nossa, o Super-Homem vai atender o meu filho' e a criança nem entende o que está acontecendo, mas o pai está feliz. No início da consulta já devemos tentar trazer o paciente ao seu lado, ganhar confiança dele, pois é muito ruim ver alguns casos em que infelizmente o paciente se consulta com o médico ele sai e rasga a receita, joga fora, porque não confia nesse profissional. É algo triste, mas acontece. Hoje temos que lançar mão de todas as possibilidades e alternativas possíveis para ganhar o paciente. Para mim foi excelente, digo que não consegui 100%, mas uns 90% eu consegui ganhar mesmo o paciente na questão do super-herói nos jalecos, no bom-humor, na brincadeira, nunca deixando a questão técnica de lado, levando da melhor forma possível. A minha função é sempre ajudar o paciente, mas eu tenho uma forma de chegar lá, com tranquilidade e leveza.

Médico e super-herói: a importância do atendimento humanizado e do respeito ao paciente

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