Rafael Pereira Dias, 31 anos, trabalha na Polícia Militar desde 2013. Antes disso atuava no comércio, mas desde criança acalentava o sonho de ser policial militar.
Porém, o sonho de ser um agente de segurança parecia impossível, mas mesmo assim ele não desistiu. “Em 2010 meu cunhado entrou na corporação e isso aumentou a minha vontade. Com o apoio dele passei a acreditar que era possível me tornar policial. Em 2013 fiz o concurso e passei em todos os testes. Isso aumentou minha autoconfiança”, conta.
Os primeiros anos na Polícia Militar foram de superação. “É um trabalho que exige conhecimento e técnica. Após um ano de preparação iniciei as atividades nos presídios em Piraquara. Foi um choque de realidade porque já iniciei o trabalho em meio a uma comunidade de pessoas experientes no crime, isso me deixava inseguro. Lá minha visão do mundo real aumentou muito”, recorda.
Quando veio trabalhar em Paranaguá começou no atendimento de ocorrências através da Rádio Patrulha Auto (RPA), colocando em prática o conhecimento que havia adquirido no curso. “Nesses sete anos trabalhando na Polícia Militar posso dizer que o dia a dia é estressante e gratificante ao mesmo tempo. Percebi que a Polícia Militar é o último recurso de muitas pessoas que necessitam de ajuda” aponta.
O soldado Dias ressalta ainda que ser policial militar vai além do tempo atribuído pela profissão. “Não temos muito tempo para a gente, pois somos procurados a todo o momento, até de madrugada e em horário de folga. Isso porque na formatura nós fazemos um juramento de que vamos defender a população nem que seja com o sacrifício da própria vida”, reforça.
Momentos marcantes
O policial aponta ainda que em sua carreira já viveu vários momentos marcantes. “Um deles aconteceu com a minha equipe quando uma mulher pediu socorro. Ela estava sendo ameaçada de morte pelo marido. Ela pediu ajuda pelo serviço de emergência 190 e quando chegamos no local ela já havia sido assassinada. Foi uma sensação de impotência. Pensei nisso por muito tempo” recorda.
O soldado Dias ressalta um caso parecido com o anterior, mas que teve final feliz.
“Ocorreu nessa semana, quando eu estava na central de emergência da polícia. Recebi uma ligação pelo 190 em que uma mulher estava sendo ameaçada de morte e pelo telefonema eu cheguei a ouvir a voz do agressor. Ele dizia que iria matá-la. Eu sentia o medo dela de morrer pelo telefone. Consegui passar a mensagem para as viaturas, que chegaram rapidamente no local e nessa ocorrência o final foi feliz, foi diferente da outra vez. Meus colegas prenderam o suspeito e juntos evitamos que ela fosse machucada ou morta. Ela me disse pelo telefone ‘vocês salvaram minha vida’ ”, lembra.
Saúde emocional
Dias aponta ainda que ser policial militar é um trabalho estressante e mexe muito com a saúde emocional. “O peso do trabalho muitas vezes acaba indo para vida pessoal, no caso dos acontecimentos do dia a dia. Muitas vezes encontramos na rua com pessoas que nós já prendemos porque nós estamos inseridos na comunidade assim como qualquer outro cidadão. Isso ocorre constantemente principalmente em momentos de folga. É uma sensação de alerta, pois ao mesmo tempo em que você respeita aquela pessoa como ser humano, tem que cuidar da sua integridade, principalmente quando estamos com a família”, ressalta.
Toque de recolher
Como toque de recolher que está acontecendo em Paranaguá nos últimos 30 dias alguns dos crimes migraram de horário. Os roubos, por exemplo, que tinham seu ápice a noite, agora tem ocorrido durante vários horários do dia. Já os casos de violência doméstica e perturbação do sossego se concentram a noite, segundo o policial.
Proteção
Em relação a proteção diária para o trabalho o soldado destaca que os cuidados não servem apenas para os policiais e sim para toda a população. “Temos que nos proteger tendo cuidado em não andar em qualquer local e qualquer horário. A noite sempre exige cuidados redobrados. Sou muito cuidadoso com os lugares que frequento. Sempre presto atenção no ambiente em volta e evito confusões ou situações que possam gerar algum tipo de conflito, sempre presto muita atenção em tudo ao meu redor”, aponta.
Dias observa ainda que a polícia hoje é treinada para oferecer um serviço comunitário. “O policial hoje é preparado para estar mais próximo da população, sem distinções, mas principalmente para ajudar os menos favorecidos da nossa comunidade. Nós precisamos estar junto com a população, olho no olho, porque ela nos envia as informações que precisamos para o combate ao crime. A polícia precisa desse esse contato mais próximo da população”, reforça.
Mensagem para quem deseja ingressar na profissão
“O conselho que eu dou para as pessoas que pretendem ser policiais militares é em primeiro lugar ter vocação e vontade de ajudar o próximo. É uma profissão de trabalho em equipe, de doação e que vai mudar para sempre a vida de quem nela ingressar. Você vai ser responsável por garantir a segurança e os direitos de pessoas que nem conhece, vai andar com velocidade para atender um chamado, prender aqueles que quebram a ordem pública, ajudar pessoas fragilizadas. Você vai ser o anjo guerreiro que vai defender os necessitados. É uma entrega! Atuamos em todas as situações e em todos momentos, não só quando alguém comete um crime. Mas eu garanto, você vai ter muitas histórias pra contar pros seus familiares”, finaliza.