Conciliar a carreira profissional e viajar o mundo, conhecendo outros países e culturas, parece um sonho distante e impossível para muitos trabalhadores. Mas, para os “nômades digitais” isso já é realidade. O que parecia impraticável na ótica do mundo do trabalho há alguns anos, hoje, principalmente após a pandemia de Covid-19 e o crescimento do home office, não é mais. Os chamados “nômades digitais” são trabalhadores que realizam as funções de sua profissão em qualquer lugar do mundo.
Quem ajuda a entender mais sobre essa nova forma de trabalho que também envolve a adoção de um novo estilo de vida é o desenvolvedor de aplicativos, Rodrigo Freitas Jardim, de 36 anos. Ele explica que o “nômade digital” não tem uma residência fixa e tem a possibilidade de trabalhar de forma remota como se estivesse dentro de uma empresa.
“Minha vida mudou muito depois que descobri que era possível conciliar a vida pessoal e profissional sem precisar estar “preso” em apenas um lugar e nem de precisar esperar as férias para poder conhecer tal lugar. Cresci viajando para conhecer lugares diferentes durante as férias escolares, então me identifiquei e me adaptei de forma mais fácil ao estilo de vida”, contou Rodrigo.
Ele relata que até a pandemia de Covid-19 trabalhava presencialmente em uma empresa. “Em outubro de 2020 passei a trabalhar 100% remoto e foi quando despertou esse interesse. Acredito que o desafio maior é para quem não tem tanta experiência na função atribuída, pois de forma presencial agiliza muito a questão de ensinar, ajudar a repassar o conhecimento”, lembra Rodrigo.
Segundo ele, um dos maiores benefícios do nomadismo digital é a qualidade de vida. “A qualidade de vida melhora muito dessa forma, já que ganha muito tempo em não precisar sair de casa e se deslocar ao trabalho. Na minha opinião, a produtividade aumenta consideravelmente, mas não são todas as pessoas que se adaptam”, observou Rodrigo.
Desta forma, é possível trabalhar e conhecer muitos mais lugares do mundo. “Até o momento, o lugar mais inusitado que passei foi uma pequena vila de pescadores chamada Puerto Lopez, no Equador, conhecida como a pequena Galápagos, pela semelhança com a ilha”, relatou.
Para ele, a passagem por várias cidades e países transformou sua vida pessoal e profissional. “Eu vi que é possível trabalhar de qualquer lugar e continuar desempenhando e entregando bem, só que de forma mais prazerosa e mantendo uma boa qualidade de vida. E, como consequência, a satisfação em estar vivendo dessa forma acaba influenciando para o dia a dia fluir de uma forma melhor, tornando como uma referência de estilo para viver”, disse Rodrigo.
Sobre conciliar as prioridades do trabalho e da vida pessoal, ele acredita que é preciso um preparo emocional para se adaptar ao novo formato de trabalho. “A ansiedade no começo dessa vida como nômade atrapalhou bastante. Na minha opinião, trabalhar o psicológico para se enxergar como morador local do local atual e não como um turista auxiliou bastante a controlar a vontade de sair para desbravar durante o horário de trabalho. Prioridade é o trabalho e nas horas vagas aproveitar para explorar o local”, destacou Rodrigo.
Nova visão empresarial
Para empresas mais conservadoras, os resultados só aparecem com os colaboradores no escritório. No entanto, muitas organizações após a pandemia deixaram a opção para os trabalhadores escolherem entre trabalhar de forma remota ou presencial, já que viram resultados na nova forma de trabalho.
No caso de Rodrigo, ele afirma que a empresa que atua tem a cultura de privilegiar o bem-estar do trabalhador. “Como várias pessoas se sentem mais produtivas trabalhando de casa, a empresa acabou optando por entregar o escritório que, anteriormente cabia mais de 100 pessoas, para outro que cabe até 16. A redução do custo foi impactante. Além de que o número de colaboradores que atuam de fora de São Paulo após a pandemia é muito maior do que os residentes na capital, não fazendo sentido manter um espaço vazio”, afirmou Rodrigo.
Ainda sobre novos formatos de trabalho adotados mundo afora, neste ano, o Reino Unido instituiu a redução da carga horária para quatro dias na semana, sem perda de salário aos trabalhadores, algo que foi aprovado por 91% das empresas. Para Rodrigo, a mudança da carga horária também passa pela questão socioeconômica dos países.
“A pandemia acelerou bastante a questão do home office no Brasil. Alguns países já estão trabalhando com um modelo reduzido de horas de trabalho. Mas acredito que o Brasil não esteja preparado por conta da situação socioeconômica que não é muito equilibrada”, opinou Rodrigo.