Semeando Esperança

Tempo para semear. Tempo para colher os frutos

Quantos vezes experimentamos culpa por ter passado um tempo jogando com as crianças ou escutando as histórias já conhecidas de pessoas idosas ou, ainda, cuidando de uma pequena horta, plantada ...

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Quantos vezes experimentamos culpa por ter passado um tempo jogando com as crianças ou escutando as histórias já conhecidas de pessoas idosas ou, ainda, cuidando de uma pequena horta, plantada em vasos. Nesses casos, temos a impressão de ter perdido nosso tempo, sem nada “produzir”. De fato, essa “lógica da produção, da eficácia e do bom desempenho” tem nos levado a uma existência tensa e sobrecarregada, deteriorando nossas relações com o mundo e as pessoas, deixando-nos vazios interiormente. Mas será mesmo que tudo na vida precisa ser interpretado à luz da produção e da eficácia? Não podemos incluir em nossa vida a alegria de “desfrutar” do belo, do agradável e do saudável que estiverem ao nosso alcance? 

O trecho do Evangelho deste Domingo destaca o contraste entre a ação do agricultor que põe a semente na terra e o crescimento incontrolável da própria semente: “alguém espalha a semente na terra… vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo” (Marcos 4,26-29) Enquanto o semeador dorme a semente vai germinando e crescendo por si só. Talvez, por isso, nas comunidades, essa versão da parábola do semeador seja bastante deixada de lado e, na sociedade, rejeitada, pois contraria a lógica do trabalhar e produzir sempre. 

Certamente, há que se buscar o delicado e exigente equilíbrio entre “lançar” as sementes na terra, cuidar delas e, com paciência, “aguardar” que se realize o processo de sua germinação e crescimento até que produzam frutos. Equilíbrio entre trabalhar e descansar, produzir e desfrutar, agir e esperar. Tal equilíbrio valoriza o processo e não apenas os resultados; reconhece a importância dos passos dados, do caminho que vai sendo percorrido.

Esse processo nos dará a possibilidade de recuperar a capacidade humana de sonhar, tão vezes perdida, especialmente neste tempo de pandemia. Desta forma teríamos condições de “trabalhar a longo prazo, sem a obsessão pelos resultados imediatos” e de “suportar, com paciência, situações difíceis e hostis ou as mudanças de planos que o dinamismo da realidade impõe” (Papa Francisco). A obsessão pelas metas não pode destruir em nós a possibilidade de viver processos. E, sejamos realistas, muitas vezes caminhamos bastante, mas nem sempre conseguimos realizar as metas que desejamos. Ficaríamos então sempre infelizes?

Considerando a importância do “caminhar”, isto é, dos “processos” poderemos alcançar muitas alegrias e sermos felizes. E são vários as maneiras como isso tem sido dito. Para o salmista, a água limpa e saudável se bebe ao longo do caminho (Salmo 110,7). Mahatma Gandhi ensina que “não há caminho para a felicidade, pois a felicidade é o caminho”. Com sua música, o artista proclama que não se pode “perder a magia de acreditar na felicidade real, e entender que ela mora no caminho e não no final” (Kell Smith). Essa compreensão da vida impulsiona a pessoa que confia e tem esperança – não a preguiçosa e sem ideais – a caminhar dia após dia, lutando e se alegrando com cada uma das pequenas vitórias alcançadas ao longo do caminho.

“Debaixo do céu há um momento para tudo, e tempo certo para cada coisa” (Eclesiastes 3,1).

Tempo para semear. Tempo para colher os frutos

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