Fiquei bastante desapontado por estes dias ao receber, entre tantas mensagens diárias, uma cópia de uma carta de despedida do advogado Luiz Guilherme Marinoni aos alunos da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, onde foi professor titular por mais de 20 anos. Claramente desiludido com o andar da carruagem nos processos acadêmicos, especialmente para titulação de professores, Marinoni pediu exoneração.
O conheci como calouro e muito tempo depois foi meu professor de pós-graduação. É dono de uma carreira brilhante e cuja experiência e ensinamentos farão falta às novas gerações de advogados. Ele foi procurador da República, presidente da OAB-Curitiba, possui pós-doutorado pela Universidade Estatal de Milão, na Columbia University e na Fordham University, publicou livros que foram traduzidos para várias línguas e tem artigos publicados em revistas relevantes em outros tantos países, onde também é conferencista. Ganhou até o prêmio Jabuti, o prêmio literário mais tradicional do país, em 2009 e 2017.
“A negação da virtude e do mérito, fundamento da abolição das cadeiras de professor titular, transformaram a faculdade em um lugar desprestigiado e sem encanto, em que o mérito acadêmico se tornou quase um pecado”, desabafa Marinoni ao atacar a derrocada das universidades federais.
Não é de admirar tal situação. Vide o ministério da Educação, os governos não conseguem dar estabilidade aos titulares da pasta. A descontinuidade certamente tem peso na precariedade da gestão de um ministério que mal consegue aplicar 80% do orçamento, que gira em torno de R$120 bilhões ao ano — a educação superior tem a fatia mais gorda: 30%.
Por certo que a responsabilidade não paira somente aos governos, os profissionais da educação também têm sua parcela de responsabilidade.
Que a educação é importante e fundamental para o desenvolvimento, supostamente todos sabem. Mas no frigir dos ovos, vemos a falta de sistemas e métodos educacionais atualizados e voltados às necessidades práticas das empresas e das pessoas. Vemos instituições sendo precarizadas, com profissionais abandonando as cátedras, como Marinoni.
É preciso repensar o país que queremos ter. E podemos começar repensando a educação, em todos os níveis.