Temos visto neste espaço que, para compreender plenamente a Maçonaria, e os Maçons, é necessário antes entender que, exceto os fatos históricos e científicos, tudo de relevante nela se ensina de forma velada, abstrata e simbólica, dos mais evidentes aos mais profundos ensinamentos. A interpretação literal não permitirá jamais alcançar, e muito menos absorver, toda a beleza desta escola filosófica, filantrópica, educativa e progressista, que visa precipuamente a evolução da Humanidade.
Nesse sentido, uma das primeiras e mais bonitas percepções que o recém-Iniciado terá ao ingressar na Ordem – e que levará consigo dali em diante — é que o tratamento de “Irmão” que os Maçons espontânea e afetuosamente trocam entre si possui um significado muito mais profundo que o literal “filho do mesmo pai e/ou da mesma mãe”. É notório que por si só a relação “de mesmo sangue” não assegura a efetiva fraternidade, e quase todos nós ainda conhecemos exemplos assim, desde Caim e Abel.
Assim, sem a necessidade de nenhum parentesco consanguíneo, e em muitas ocasiões sem nem mesmo se conhecerem pessoalmente, um verdadeiro Maçom tratará imediatamente outro Maçom como Irmão, em razão do reconhecimento intrínseco e recíproco quanto à existência de haver entre eles a mesma base de valores morais, somada ao mesmo ideal e objetivo de aperfeiçoar o homem e a humanidade até alcançarmos a grande fraternidade universal. “Os Maçons são Irmãos por terem recebido a mesma Iniciação, os mesmos modos de reconhecimento e terem sido instruídos no mesmo sistema de moralidade.”
Além da evidente convicção de que somos todos filhos do mesmo ente Criador, e portanto, Irmãos, a primeira impressão do Aprendiz recém-iniciado quanto ao espírito fraterno que reina no ambiente maçônico será confirmada ao longo da evolução iniciática por sucessivas explicações simbólicas. O autor norte-americano Albert Mackey (1807-1881), por exemplo, ilustrava que “tendo a ciência da Maçonaria recebido o título de ‘Lux’, ou ‘Luz’, para indicar que a iluminação mental e moral é o objetivo da Instituição, foram os Maçons, portanto, denominados ‘Filhos da Luz’.”
Outra alegoria é que simbolicamente uma Loja Maçônica representa o mundo e, por extensão, os Maçons são partículas (filhos) do Universo. Ainda, uma denominação, um tanto em desuso, é a de “Filhos da Viúva”, com explicações diversas, como a que considera que os Maçons são “filhos da Terra, mãe e fossa comum da Humanidade”. A partir disso remete-se à mitologia egípcia, em que a deusa Ísis, símbolo da Terra, é a “grande viúva” do deus Osíris, símbolo do Sol. O sol fecunda a terra, e dela somos todos filhos.
Deve ficar claro, porém, que explicações como essas não constituem dogmas na Maçonaria, que aliás não os tem. Caberá a cada Irmão, no relacionamento íntimo com o próprio intelecto, desenvolver sua compreensão quanto ao real significado dos símbolos ou relatos simbólicos. O essencial, porém, é o maravilhoso e motivador sentimento de que essa busca evolutiva do conhecimento é, desde o início, verdadeiramente compartilhada com outros homens livres e de bons costumes, com o mesmo ideal fraterno.
Com base em obra de N. Aslan. Responsável: Loja Maçônica Perseverança – Paranaguá – PR ([email protected])