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Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

Toque de recolher

O Toque de Recolher instituído recentemente em Paranaguá, devido à questão de saúde pública (Coronavírus), trouxe-me várias lembranças. Lembrei da época da Ditadura Militar. A cidade transparecia medo

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O Toque de Recolher instituído recentemente em Paranaguá, devido à questão de saúde pública (Coronavírus), trouxe-me várias lembranças. Lembrei da época da Ditadura Militar. A cidade transparecia medo. Aqui até que não existia violência, era mais em Curitiba, porque tudo acontecia na Capital, embora refletisse em nossa cidade.

Militei desde 1968, estava com 14 anos e já trabalhava e estudava a noite com minha mãe no Colégio Itiberê, depois se tornou ISULPAR. Nesse ano desceu a Cavalaria de Curitiba para Paranaguá, estávamos fazendo passeata em protesto pela morte brutal do estudante Edson Luiz de Lima Souto, Presidente da UNE, União Nacional dos Estudantes, no Rio de Janeiro. 

Estávamos desfilando na Rua Marechal Deodoro e o encontro final da passeata terminaria na frente da Igreja da Ordem, ou Teatro da Ordem. Cantávamos a música de Geraldo Vandré, PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES. Quando vimos a Cavalaria em peso, subindo a rua, vindo em nossa direção, foi um caos, uma loucura. Eram gritos e correrias para todos os lados. Entrei numa loja de um árabe, não lembro o nome, hoje é a loja Mikerinos, talvez à época fosse do pai dele, não sei, o que importa é que eles me salvaram. Muitas pessoas foram levadas para Curitiba e de lá pro DOI COD, em São Paulo. Foi muito triste. Perdi vários colegas e amigos, por conta da Ditadura. Cresci muito com essa experiência, porém, não deixava de me encontrar às escondidas com o pessoal do CEFA, CENTRO ESTUDANTIL FERNANDO AMARO, eram encontros sempre às escondidas. 

A perseguição era duríssima. Eu era do tipo moderado. Militei desde 1968, com 14 anos de idade, até 1977, com 23 anos de idade. Encerrei porque contraí câncer no nervo ciático e foi quando me casei com o pai dos meus filhos. É isso mesmo. Eis aí um pouco da minha história e de Paranaguá. Essa passeata quando foi noticiada pelos Jornais e a TV, houve censura e confisco pelo Governo Federal. O Presidente do Brasil à época era o Marechal Arthur da Costa e Silva. O protesto foi no Brasil inteiro. Paranaguá viveu muitos momentos de tensão nesse período, porém, pelo que me recordo, esse foi o pior.

Sonia Machado

Historiadora

Sócia do IHGP

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