No final de fevereiro de 1718, o navio pirata La Louise navegou ao sul da costa brasileira, indo em direção a Cananéia e logo após, a Paranaguá. Corrigindo as informações escritas no artigo anterior, o navio pirata La Louise, ao entrar na baía de Paranaguá, avistou saindo do porto de Paranaguá o navio mercante, Sainte Rose, comandado por Bocachi. Conforme as pesquisas de Geraldo Hostin, o navio pirata saiu em perseguição ao navio mercante e nessa perseguição o navio pirata naufragou, próximo à Ilha Cotinga. O navio naufragou com cerca de duzentos mil cruzados em prata e ouro, em moeda e em pó, roubados das Índias de Castela.
Em 1719, o Ouvidor, Rafael Pires Pardinho, presenciou outros dois navios franceses, a nau Caçadora e a nau S. Francisco, oriundas de Saint-Malo. Essas duas naus vieram a Paranaguá com a intenção de se abastecer com víveres. No entanto, após interrogados, os capitães das naus francesas informaram que vieram também com a intenção de tomar a carga do navio pirata naufragado. Após o interrogatório, o Ouvidor, alertou, através de protesto, que os capitães deveriam abandonar imediatamente aquele porto, a fim de não contrariar o que estava estabelecido entre as coroas de Portugal e da França. Os capitães responderam com um pedido de socorro, escrevendo que necessitavam de mantimentos para prosseguir viagem. Pediam, assim, autorização para negociar com os moradores da vila as fazendas que necessitavam. O Ouvidor não autorizou a negociação, contudo, em virtude das palavras e boa disciplina, enviou animais e reses para que os capitães pudessem prosseguir viagem. Em agradecimento, os capitães ofereceram duas armas e dois barris de vinho. Assim que recebeu as embarcações carregadas, o Ouvidor distribui o vinho aos sacerdotes da vila.
Durante a sua correição e atuação no decorrer da entrada dos dois navios franceses, o Ouvidor Pardinho deixou escrito uma lista com 177 provimentos para a vila de Paranaguá. Alguns dos seus provimentos versavam sobre a proibição da entrada de navios estrangeiros, sobretudo, daqueles de nações inimigas da coroa. Ordenava também que era proibido fazer com essas embarcações qualquer forma de troca ou negócio, pois além de ser proibido por lei em todo o Estado, era proibido pela lei de Sua Majestade. Os juízes ordinários e oficiais da câmara deveriam informar sobre todas as notícias que houvesse, em especial, da entrada de naus estrangeiras que chegassem ao porto. Ordenava ainda, que nas praias da vila e em todo o seu termo, caso viesse alguma embarcação ou saísse a elas infiéis e corsários que trouxessem gêneros, os juízes ordinários deveriam fazer a arrecadação e fazer o registro em inventários; em seguida, deveriam informar imediatamente os Ouvidores Gerais da Comarca e aos Provedores da Fazenda Real da Vila de Santos, porque a estes pertenciam os gêneros por lei. O Ouvidor reiterou ao rei, Dom João V, que durante sua correição tentou corrigir os erros e abusos do passado. Afirmou que havia encontrado uma grande confusão na câmara da vila de Paranaguá, pois não encontrou os provimentos anteriores, nenhum registro acerca das entradas de embarcações e a carga que traziam. Por fim, podemos pensar que observando as práticas e costumes existentes no porto da vila Paranaguá, o ouvidor regulamentou como os oficiais da câmara deveriam proceder, orientando que observassem os provimentos deixados como lei.
Na semana que vem, traremos um texto especial em homenagem ao aniversário da cidade de Paranaguá. Só se ama aquilo que se conhece, esperamos que esse e outros textos publicados na nossa coluna, desperte ainda mais a curiosidade por conhecer e investigar a história da nossa cidade de Paranaguá.
Agradecimentos especiais ao arqueólogo Geraldo Hostin
Priscila Onório Figueira
Historiadora
Fontes e bibliografia utilizada
Hostin, Geraldo. Um dos naufrágios piratas mais importantes da história. Entrevista à Folha do Litoral News. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0Tv76yrMreg
Arquivo Histórico Ultramarino. São Paulo Alfredo Mendes Gouveia. cx. 3. doc.242. Lisboa Ocidental, 26 de maio de 1722. Carta do Ouvidor Geral de São Paulo, Rafael Pires Pardinho, para Dom João V, na qual diz que tendo ido em correição as últimas povoações do sul do Estado do Brasil, parece útil lhe dar conta de alguns navios estrangeiros que ali tem entrado. fl. 4-26.