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Crônicas

Um tempo

Publicado

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Por: Kátia Muniz

O casal não costumava brigar feito cão e gato, tampouco havia agressão física ou verbal. O problema era outro: a distância. Escrito dessa forma, passa a impressão de que cada um residia em uma ponta do país. Muito pelo contrário, dividiam o mesmo teto e a mesma cama. Apesar disso, nunca foram tão distantes. 

Nada é mais desolador do que presenças que não são sentidas. Assim, o toque das mãos vai caindo no esquecimento, o desejo se perde em algum lugar do passado e os lábios se desacostumam dos beijos. Crescem silêncios abissais, no mesmo momento em que se descobre a inexistência de um para o outro.

Foi com a real percepção desse quadro, que um deles sugeriu dar um tempo na relação.

No entanto, “um tempo” não significa necessariamente uma ruptura, separação ou divórcio. Seguindo o sentido oposto do que a maioria pensa, pode sim ser altamente benéfico. Inclusive, é possível que o determinado período faça com que as retinas enxerguem os fatos por uma nova perspectiva e com o necessário ajuste no foco.

Será uma pausa em que os dois deixarão de coabitar. Ademais, a ausência de um promoverá uma análise quantitativa em relação à falta dessa pessoa.

Ainda há de se considerar essa oportunidade também para si próprio, como um respiro, uma ventilação no relacionamento, bem como um jeito de reorganizar os pensamentos, buscar respostas aos inúmeros questionamentos e acertar o eixo, ou seja, pensar em ímpar o que é possível realizar em par.

“Um tempo” é boia jogada no mar revolto do amor, um pedido de salvação, resgate ou sinal de que as ondas podem se acalmar e nascer daí a esperança e a possibilidade de refazer a rota de uma maneira totalmente diferente. Algo que sirva para equilibrar a relação, redescobrir o diálogo, muitas vezes negligenciado pelos excessos de compromissos cotidianos, e, em outras situações, por pura preguiça de manter todo o conjunto funcionando harmonicamente.

Esgotado o prazo, presume-se que os envolvidos sejam capazes de avaliar com mais precisão se há como reverter a desordem que se instalara anteriormente ou venham a entender e aceitar que ciclos também chegam ao fim.

Seja qual for o resultado, não há como negar: tempo ─ ele é o grande juiz.

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