Como vimos anteriormente, a Paranaguá da década de 40 ainda enfrentava uma questão do século XIX: a disputa dos fretes com Antonina. Por outro lado, também encontramos naquela Paranaguá antiga, aspectos familiares à nossa época. De acordo com um jornal, haveria “muitos automóveis, caminhões e carroças, além de outro tanto desses veículos” de fora, mas a extrema maioria dos condutores respeitava as leis. Acontece que em dias de chuva, para os passageiros se molharem menos, os motoristas paravam no lado oposto da via, mesmo sendo proibido “aos automóveis, nem sequer para o desembarque de passageiros, a parada contra-mão”. Como esperado, a fiscalização passou a multar os condutores infratores, inclusive o motorista da redação do jornal. Agindo em causa própria, a matéria defendeu a infração de trânsito – era apenas uma parada rápida na contramão – e acusou a fiscalização de abuso de poder e “excesso de zelo”. Citaram até o presidente do país, contrário a multas em excesso.
Essa história me fez pensar sobre muitos motoristas de hoje em dia aqui na cidade: individualistas, usam o sinal de alerta de seus veículos como um salvo-conduto para infringirem as leis de trânsito, parando em fila dupla, utilizando marcha à ré, virando onde não é permitido ou estacionando em local proibido. E a desculpa esfarrapada continua a mesma da década de 40: é bem rapidinho.
Diferente de 80 anos atrás, atualmente há menos carroças, mas existem muito mais veículos, caminhões, ônibus, bicicletas, motocicletas, trens intermináveis e condutores irresponsáveis desrespeitando as leis de trânsito. Se a fiscalização fosse rígida como nos anos 40, haveria reclamações? Ironicamente, estes infratores do “só um pouquinho” também poderiam citar o atual presidente do Brasil, que acredita na existência de uma suposta indústria das multas perseguindo os motoristas.
Por Alexandre Camargo de Sant’Ana
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