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Carnavais

Nesta quimera formada pela argumentação científica moderna misturada a códigos morais conservadores, o carnaval também foi afetado.

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Esta série sobre o carnaval de Paranaguá em 1913 faz parte da seguinte questão: como a modernidade agiu sobre os diferentes objetos e atores ao se instalar na cidade? Iniciamos com a busca das autoridades locais por mais assepsia urbana e melhora na saúde dos habitantes, implantando a água potável encanada, a rede de esgotos e buscando alterar alguns hábitos antigos e insalubres. Mas este processo normatizador, além de não se limitar a questões de saúde pública, ainda utilizava um discurso moralizante para reprimir comportamentos indesejados. Nesta quimera formada pela argumentação científica moderna misturada a códigos morais conservadores, o carnaval também foi afetado.

Em 1913, o carnaval de Paranaguá passava por transformações, com proibições impactando a folia. Todavia, existiam diferenças enormes entre as festas dos pobres e dos ricos. A folia na rua era dividida em duas: o desfile das elites e o carnaval das camadas mais pobres. O carnaval nos clubes seguia a mesma divisão: dois clubes elitizados e um do proletariado. Deste modo, podemos afirmar que existiram no mínimo quatro carnavais em Paranaguá naquele ano: 1) o desfile principal, com o povo observando os ricos; 2) os clubes da elite; 3) o clube dos trabalhadores; 4) a festa popular, pelas ruas e esquinas de Paranaguá, com as bandas, mascarados, fantasiados, entrudo – esta foi a mais atacada e reprimida pelas proibições resultante das novas leis. Aproximando povo, proletariados, ricos e patrões, o lança-perfume foi a personagem principal da folia de 1913, consumido por todos nas ruas e nos clubes.

Alguns nostálgicos reclamaram da festa modernizada, mas, segundo o jornal era “gente antiga […] dando largos suspiros pelos tempos passados […] da mascarada furiosa, dos dominós mordazes, folgazãos, mysteriosos, e dos Clubs Democrata e Belzebut”.

Por Alexandre Camargo de Sant’Ana

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