Semeando Esperança

Quaresma – Busca de Deus – Fraternidade

O terceiro Domingo da Quaresma nos apresenta Jesus em uma cena chocante e muito atual: a expulsão dos vendilhões do Templo: João 2,13-25

Quaresma – Busca de Deus – Fraternidade

Quaresma – Busca de Deus – Fraternidade

O terceiro Domingo da Quaresma nos apresenta Jesus em uma cena chocante e muito atual: a expulsão dos vendilhões do Templo: João 2,13-25. A festa da Páscoa se aproximava e Jesus subiu a Jerusalém. No Templo, entre as pessoas sedentas de Deus (Salmo 42) que tinham subido para buscá-lo e adorá-lo, Jesus encontrou comerciantes da fé, os vendedores e os cambistas. Agindo com a firmeza dos profetas, cheio de zelo pela casa de Deus, fez um chicote de cordas e expulsou todos dali, dizendo: “Tirem isso daqui! Não transformem a casa de meu Pai num mercado” (v. 16). Ele percebeu imediatamente a perversão: o lugar da glorificação de Deus e da acolhida de seu amor tinha sido transformado em um lugar de enganos e de abusos contra os fiéis; a sede pelo dinheiro extinguira a sede de Deus; isso era inaceitável: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro [transformando-o em um deus] (Lucas 16,13). As pessoas expulsas do Templo por Jesus viviam inescrupulosamente da exploração comercial da própria religião. 

Negociar Deus, a religião e as pessoas piedosas é uma tentação que sempre rodeia o coração humano e as estruturas das religiões e de suas comunidades:rezo para estar em paz com Deus, evitando assim, algum castigo; faço um sacrifício a Deus com a intenção de receber dele as coisas que eu acho que preciso; oferto algum bem a Deus – muitas vezes com grande esforço – esperando que ele me retribua muito mais. Essas atitudes com aparência de religiosidade não tornam mais profunda a fé, pelo contrário, a curto ou longo prazo, poderão levar à indiferença religiosa ou, pior,ao abandono da fé, vivendo como se Deus não existisse.

Infelizmente essa atitude interesseira e comercial se mostra escandalosamente viva naquelas lideranças que se utilizam da religião para seu enriquecimento e bem estar. Mas também se apresenta em nós, quando nossas ações – religiosas ou não – são interesseiras, guiadas pelo famoso “tirar vantagem em tudo”. O que vou ganhar com isso?É triste descobrir que perdemos a dimensão gratuita da vida, incluída a sua dimensão espiritual, e que nos tornamos o que condenamos nos outros: “vendedores e cambistas”, pessoas incapazes de amar e de agir gratuitamente. Não faria mal algum (re)descobrir que muitas vezes o que nos enche de vida é a gratuidade de nossas ações ou, no dizer de Clarice Lispector, a improvisação de um “ato gratuito”, pois, segundo ela, ato gratuito “é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ônibus, pela nossa vida diária enfim – que esta é toda paga, isto é, tudo tem seu preço”.Seja esta Quaresma um tempo favorável para tornar nossas vidas e a de nossas comunidades um “lugar” onde “habitem” a força e a beleza do diálogo como caminho de relações mais amorosas, denunciantes das diferentes violências praticadas e legitimadas indevidamente em nome de Jesus e da religião;o compromisso com as causas que defendem a casa comum, denunciando a instrumentalização da fé em Jesus Cristo que legitima a exploração e a destruição socioambiental; os esforços pequenos e grandes para superar as desigualdades, organizando ações concretas de amor ao próximo (Texto-base, n. 3).

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