Semeando Esperança

A devoção e as eleições municipais

Não basta apresentar-se como cristão, é preciso que os valores do Evangelho iluminem o modo de agir de quem for eleito

devoção

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Ao redor da pequena igreja dedicada a Nossa Senhora do Santíssimo Rosário, inaugurada em 1578, cresceu o povoado que, no dia 29 de julho de 1648, por Decreto do rei de Portugal, Dom João IV, tornou-se Vila de Nossa Senhora do Santíssimo Rosário de Paranaguá. A história parnanguara considera essa data o dia da criação do Município de Paranaguá.

De diferentes maneiras, a igreja dedicada a Nossa Senhora tem sido considerada, por historiadores locais, o “coração da vida comunitária”, tanto para o cultivo da fé dos devotos, como também para a realização de eventos públicos, como as eleições municipais. Na “matriz do Rosário” eram instaladas as urnas para os votos, a fim de que as eleições “transcorressem com ordem e respeito”. Infelizmente, esse objetivo nem sempre foi alcançado. Em 1845, por exemplo, a urna foi roubada e a subsequente eleição de 1848 aconteceu com grande tumulto e “grave desrespeito pelo recinto sagrado”. À época, era um modo de unir devoção e compromisso cidadão.

Estamos novamente em período eleitoral. Hoje temos clareza de que as urnas não devem mais ser recolocadas no interior da Catedral, como no passado foi feito em relação à “matriz do Rosário”. Contudo, existe uma mentalidade esperando por transformação; aquela segundo a qual a política é coisa suja e, portanto, “com política eu não me envolvo”.

O que nos diz o evangelho deste domingo: Mateus 22,15-21? Jesus, ao ser questionado sobre o pagamento dos impostos, afirmou: “Deem a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus.” Ele estava colocando Deus em primeiro lugar. Porém, uma exegese superficial desse texto tem levado muitas pessoas a assumirem posturas contrárias à fé, separando a vida de fé da inserção nas realidades sociais. Disso resulta a afirmação, segundo a qual “a Igreja não deve se meter em política”. Se tal afirmação indicar que os membros da hierarquia não devam se colocar no lugar da administração civil, ela é verdadeira. Porém, jamais poderia significar que os cristãos, como os outros cidadãos, não devem assumir responsabilidades políticas, inclusive candidatando-se a prefeito e vereadores, como é o caso das atuais eleições.

Sobre esse assunto, vale considerar o que o Papa Francisco afirmou quando, em diálogo com alunos de escolas jesuítas, uma pessoa lhe perguntara sobre compromisso político: “Para o cristão, é uma obrigação envolver-se na política. Não podemos fazer o jogo de Pilatos, lavar as mãos. Não podemos! Devemos nos envolver na política, pois ela é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os leigos cristãos devem trabalhar na política. Dir-me-ás: ‘Não é fácil; a política está muito suja’. Então eu me pergunto: ‘Mas, por que a política está suja?’ Não seria porque os cristãos se envolveram na política sem o espírito que brota do Evangelho? É fácil dizer que ‘a culpa é de fulano’, mas e eu, o que eu faço? É um dever! Trabalhar para o bem comum é um dever do cristão!” (7 de junho 2013).

Enfim, dirigindo-me aos cristãos, alegra-me o fato de perceber que muitos são candidatos nestas eleições municipais. Contudo, recordo, é preciso unir a devoção às eleições. Ou seja, não basta apresentar-se como cristão, é preciso que os valores do Evangelho iluminem o modo de agir de quem for eleito.

A devoção e as eleições municipais

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