Foi celebrado em 20 de novembro o Dia da Consciência Negra, que busca estimular a reflexão em relação à inserção e participação do negro na sociedade. É uma triste realidade que o preconceito e o racismo ainda persistam no país e que seja necessário promover ações que visem incentivar que todos sejam tratados com dignidade.
O Brasil é considerado um dos países com maior diversidade do mundo, seja étnica, religiosa ou cultural. Essa pluralidade, que deveria contribuir para que tivéssemos mais respeito ao próximo, parece ser cada vez mais esquecida e substituída por estereótipos julgados de maneira rápida e, na maioria das vezes, ofensiva.
Nesse cenário o racismo se destaca por ser um problema enraizado em nossa sociedade e que ainda não conseguimos resolver. O desafio é imenso, pois ninguém nasce odiando ou desprezando outra pessoa por causa de sua etnia, é um comportamento aprendido conforme as pessoas envelhecem e que tem se perpetuado por gerações.
Infelizmente quando abordamos um tema como esse, que não é discutido com a intensidade que deveria, muitos apontam que é vitimismo, o que não poderia ser mais longe da realidade. O racismo e a discriminação existem desde a forma como as pessoas são tratadas, pelos estereótipos que lhes são designados e até na estruturação do mercado de trabalho, todos fatores que contribuem para a desigualdade social do país.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o rendimento médio das pessoas consideradas brancas em 2016 foi de R$ 2.660, muito acima da média dos negros, que foi de R$ 1.470. A diferença salarial ainda é encontrada mesmo quando possuem o mesmo nível de graduação e titulação, como mostrou pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Além da discriminação salarial, pesquisa realizada pelo Instituto Etnus em 2017 apontou que 60% dos entrevistados negros afirmaram ter sofrido racismo no trabalho. Nas redes sociais o cenário não é muito diferente. Em 2016 o projeto Comunica que Muda realizou um levantamento que vasculhou as principais redes sociais utilizada no país (Facebook, Twitter e Instagram) verificando temas como política, racismo e homofobia, com resultados preocupantes.
Foram identificadas 393.284 menções a esses temas e outros considerados sensíveis em nossa sociedade, com 84% adotando uma abordagem negativa, ofensiva ou discriminatória. A dimensão e importância desses números são acentuadas quando analisadas em conjunto com pesquisa promovida pelo Instituto Reuters em 2016, que indicou que 72% dos brasileiros utilizam as redes sociais como principal fonte de notícia.
O racismo e a intolerância, em qualquer formato, são crimes de ódio que ferem a dignidade humana e não agregam na busca constante pelo desenvolvimento da sociedade. Superá-los exige não sermos coniventes, reconhecer sua existência e promover o diálogo para alcançarmos o entendimento que o respeito ao próximo deve ser sempre uma prioridade.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)