A política brasileira alcançou um índice quase unânime de desconfiança da população. Os motivos são diversos e vão desde incompetência e abuso do poder daqueles que deveriam representar os interesses dos brasileiros até os mais variados crimes de corrupção, peculato, prevaricação e estelionato. A população exige mudanças e maior fiscalização, porém parece que ainda existem políticos que se recusam a escutar.
Recentemente, o Legislativo foi protagonista de alguns dos mais importantes episódios da história do Brasil, mas infelizmente não parece contar com o interesse de alguns partidos para dar seguimento às demandas da população. Já se passaram três semanas da autorização da presidência da Câmara para a indicação dos nomes de parlamentares para compor a comissão especial responsável pela tramitação dos projetos das “10 medidas contra a Corrupção”, e ainda faltam 12 nomes, que deveriam ser indicados por cinco partidos (PT, PP, PMDB, PSC e PC do B).
Vale ressaltar que três desses partidos (PT, PP e PMDB) contam com os principais alvos da Operação Lava Jato. O líder do PT na Câmara chegou ao cúmulo de dizer para o jornal O Estado de São Paulo que não tinha conhecimento que já deveria ter indicado os nomes. É de se perguntar o que ele anda fazendo por lá para não saber do andamento dessa comissão. Houve deputado que afirmou que a pauta não é prioridade, o que não poderia ser mais equivocado, pois o combate à corrupção tem que ser sempre uma prioridade, uma vez que prejudica todos os setores do poder público.
As “10 medidas contra a Corrupção” resultaram de uma iniciativa do Ministério Público Federal e de entidades que recolheram mais de dois milhões de assinatura. O pacote apresenta mudanças na legislação para dar maior celeridade aos processos judiciais, bem como busca endurecer as punições para corrupção. Mesmo que não resolvam todas as situações que atingem o Poder Público, é o começo de necessárias alterações estruturais que visam a prevenir e reprimir esse tipo de ato.
Uma temática dessa importância, que é interesse público e deveria ser uma bandeira de políticos de todos os partidos, não pode ser atrasada desse jeito. Tão logo foi autorizada a indicação dos nomes, sobraram candidatos do PSDB para participar, pois reconhecem a relevância do tema. Atualmente, 14 partidos (PTN, Solidariedade, PRB, PHS, DEM, PTB, PR, PSD, PROS, PV, PSB, PDT, Rede e o próprio PSDB) já indicaram os nomes.
A expectativa é que o PMDB indique os nomes esta semana e com isso os partidos restantes também façam o mesmo. Já não é sem tempo, pois a política brasileira precisa, urgentemente, reconquistar a confiança da população e isso só irá acontecer quando deixarem o discurso de lado e colocarem em pauta debates e ações que realmente promovam o combate à corrupção e desvio de conduta.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)