O relatório “Nações Unidas Mundos Distantes: Saúde e direitos reprodutivos”, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), apontou que o Brasil possui a sétima maior taxa de gravidez precoce da América do Sul. São aproximadamente 65 gestações para cada mil jovens de 15 a 19 anos, dados muito superiores aos apresentados por países desenvolvidos como França (seis a cada mil) e Alemanha (oito a cada mil).
Apesar do número referente à gravidez precoce no Brasil ter apresentado diminuição nos últimos anos (eram 750.537 em 2004 e passou para 489.975 em 2015), ainda é considerado alto e contribui para o crescimento da desigualdade social. Atualmente um a cada cinco bebês nascidos no país é filho de mãe adolescente, sendo que 66% das gestações não foram programadas e mais da metade dos casos as mães não trabalham e nem estudam.
Essa realidade resulta em fatores preocupantes, pois além de limitar o desenvolvimento pessoal e profissional da adolescente, que encontra dificuldades em completar os estudos e progredir economicamente, também prejudica o crescimento saudável das crianças.
Mudar esse cenário exige políticas públicas que não apenas ofereçam as orientações necessárias para os jovens, mas também que promovam uma cultura que valorize a educação sexual nas famílias. Pesquisa realizada pela empresa Bayer com jovens entre 15 a 25 anos revelou que 60% dos entrevistados buscam informações sobre sexo na internet, 15% com amigos e apenas 8% com os pais, ou seja, a família tem deixado de ser a principal referência em um assunto íntimo e de extrema relevância.
Além do diálogo no âmbito familiar, é preciso ampliar a divulgação de informações junto ao público jovem sobre doenças sexualmente transmissíveis e formas de prevenção, como diferentes tipos de contraceptivos e como usá-los. Outro fator fundamental é o fortalecimento de programas e estruturas que ofereçam suporte e acompanhamento no caso de uma gravidez precoce.
Um bom exemplo nesse sentido foi o programa Mãe Curitibana, implantado em 1999 na capital paranaense e que promoveu um atendimento humanizado no trabalho de pré-natal, consultas e orientações, minimizando os riscos da gestação e reduzindo de maneira inédita a taxa de mortalidade infantil e materna na cidade. O programa também ampliou o trabalho de prevenção por meio da informação, contribuindo para uma expressiva queda no número de gestantes com menos de 20 anos (de 19,8% em 1998 para 14,2% em 2010).
A adolescência é um período de descobertas, mudanças emocionais e físicas que acontecem de maneira rápida e constante. Dessa forma, o diálogo e a informação serão sempre as principais ferramentas para prepará-los aos desafios que estão surgindo em suas vidas, inclusive em relação ao ato sexual, para que conheçam as consequências, formas de prevenções e, caso ocorra uma gravidez precoce, encontrem opções de suporte para enfrentar essa realidade.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)