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Educação

Grupo de Alfabetização da Catedral já instruiu cerca de seis mil pessoas em Paranaguá

Grupo de Alfabetização da Catedral é responsável pela transformação de vida de muitas pessoas da terceira idade. Foto: Arquivo

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O Grupo de Alfabetização da Catedral celebrou seus 23 anos de fundação em Paranaguá na segunda-feira, 16, com programação especial na Catedral Diocesana de Paranaguá. A entidade, que já alfabetizou cerca de 6 mil idosos desde sua criação, faz parte da Pastoral Social da Catedral Diocesana de Paranaguá e concede aulas semanalmente às segundas e quintas-feiras, no horário das 14h às 16h. Além de alfabetizar idosos de Paranaguá e região, o grupo funciona como forma de resgate da autoestima e da cidadania de pessoas que anteriormente não sabiam ler e obtiveram, segundo a coordenadora Maria Aparecida Miorali, a “Cida da Catedral”, a “luz das letras”. 

De acordo com a coordenadora, a criação do grupo foi inspirada no antigo Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), quando ela foi transferida de Londrina para Paranaguá, e encontrou o apoio do padre José Miguel na Catedral. “Juntou o sonho dele com o meu e montamos o grupo de alfabetização para a terceira idade”, explica, destacando que a luta foi árdua no início para reconhecimento do trabalho.

“Nós tivemos no início até 180 alunos, até desfilávamos no aniversário da cidade”, explica a coordenadora, destacando que com o decorrer do tempo as escolas municipais abriram de noite a Educação de Jovens e Adultos (EJA), algo que fez com que houvesse uma redução no número de alfabetizandos, inclusive por causa de dificuldades financeiras para que eles pudessem pagar a passagem de ônibus para assistir às aulas. “Quando abriram essas novas oportunidades, orientamos os alunos para que frequentassem a escola da comunidade deles, que não gastassem e não perdessem aula. Então aí esvaziou e terminamos com o período da noite”, explica, destacando que desde então as aulas só são ministradas à tarde. 

Atualmente, são atendidos 40 idosos, sendo que a entidade está aberta a novos voluntários e ao recebimento de doações, visto que a cada dia de aula é oferecido lanche para os idosos, muitos dos quais são de comunidades distantes do centro e alguns em situação de necessidade social. “É muito difícil o idoso chegar para a aula, geralmente ele é trazido pelo neto, filho, colegas, então ele tem que passar por um trabalho de resgate da autoestima, da dignidade e da cidadania, algo feito já no primeiro mês. A partir disso ele cria uma vida nova e fica todo poderoso, inclusive em casa”, afirma Cida.

REFORÇO ESCOLAR

Além da questão da alfabetização, outro foco é o reforço escolar para pessoas que, por exemplo, não concluíram o Ensino Fundamental. “Temos alunos de empresas que querem terminar de primeira à quarta série. Eles não recebem o diploma, a gente os prepara e repassa para o EJA, que faz avaliação para passar para o CEEBJA. Quem não tiver concluído da primeira à quarta série e quiser pegar reforço temos vagas até o final do ano”, afirma Cida. 

VOLUNTARIADO

Outro foco é a questão do voluntariado. Segundo a coordenadora, o Grupo de Alfabetização da Catedral está aberto a novos voluntários e para ingressar é preciso ter foco, presença e respeito com os alunos. “Costumo dizer que ser voluntário não é fazer o bem ao próximo, é fazer o bem para nós mesmos. A maior parte dos nossos voluntários era depressiva, estava em casa aposentada, por exemplo, muitos param de trabalhar e acabam se sentindo inúteis. Falo para que venham aqui conosco, pois tem serviço e quanto mais professores e voluntários melhor para nós e para os alunos”, explica. 
Além de voluntários, o grupo afirma que aceita doações de alimentos, visto que são oferecidos aos idosos lanches antes e depois das aulas na Catedral. “São pessoas humildes, que muitas vezes vêm sem almoçar ou tomar café e chegam a tremer de fome. Então a gente os acolhe com algum mimo, uma pipoca, canjica, arroz-doce, outros lanches, para que eles possam entrar em sala de aula”, complementa Cida. 

“O grupo é gratuito, nem os voluntários ganham nem os alunos pagam, no entanto, eles têm um pagamento, que é no retorno do ano, quando peço para cada aluno que gostou trazer outro para o Grupo de Alfabetização, como forma da corrente avançar”, explica. 

A diferença do idoso para o jovem é que o mais novo vai empurrado para a escola e o idoso tem pressa em aprender, ele quer sugar o máximo de aprendizado possível. É uma emoção grande ver que eles aprendem a ler e escrever e muitos falam que hoje sabem o ônibus que devem pegar, e antes precisavam fingir que tinham deixado os óculos em casa. Eles dizem: eu vi a luz das letras e isso para mim é vida. Não existe salário ou dinheiro que pague isso”, finaliza. 

METODOLOGIA DE ENSINO

Juciara Afonso, coordenadora pedagógica do Grupo de Alfabetização da Catedral, afirma que a entidade realiza um importante trabalho em prol da educação local. “Agradecemos a Catedral por ter aberto este espaço há 23 anos e trazer essas pessoas para a convivência social”, explica, ressaltando que além da educação, os alunos sempre voltam ao grupo pela questão da convivência.

“Quando o aluno chega é feita uma entrevista com ele para ver se ele já estudou até algum ano. Se ele não estudou, é encaminhado para uma turma que vai trabalhar com a coordenação motora, pois eles não sabem nem o peso de um lápis, bem como com foco no incentivo, pois no início eles desistem. Passada esta fase, eles começam a conhecer as letras e formar sílabas. Aprendendo a formar palavras e ler, eles vão para o segundo ano e começam a aprender a gramática, ficando até o terceiro que é o final e a gramática completa. Funciona como uma escola regular e só vai concluir quem souber, de fato, ler e escrever e ter conhecimento das quatro operações”, afirma Juciara. 

“As vagas estão abertas. Se você chegar hoje ou amanhã vai estudar. Convidamos a comunidade a nos ajudar como voluntários, porém eles devem vir com vontade”, completa.

IMPORTÂNCIA DO GRUPO

“A alfabetização é a menina dos olhos e da vida nossa. Começamos com a esperança de que íamos fazer um trabalho bonito e que ia dar certo. E deu certo graças aos voluntários e à Cida, que é uma batalhadora, não tem tempo ruim, para ela é tudo maravilhoso”, afirma o padre José Miguel. “Prezamos pela autoestima do idoso. Eles demonstram no grupo que se sentem bem. O grupo em si faz todo o possível para que se sintam em casa como irmãos, com um trabalho de acolhida, de apoio, o que é fundamental para eles neste momento da vida”, complementa.

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