Projeto quer tornar a Ilha do Mel a primeira ilha inclusiva para autistas no Brasil

Um projeto da Abitur (Associação Brasileira das Ilhas Turísticas) e ONDA-Autismo (Organização Neurodiversa dos direitos do Autista) quer tornar a Ilha do Mel, no Paraná, a primeira ilha inclusiva para pessoas autistas no Brasil. A ideia é preparar a comunidade e os ambientes, como restaurantes, hotéis, pousadas e demais estabelecimentos do destino turístico, para receber autistas e familiares de maneira inclusiva e com acessibilidade.

A iniciativa é de Dayanny Feitoza, executiva da Abitur, com formação em turismo e integrante da associação desde a fundação em 2014. Ela recebeu o diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista) de seu filho em meio ao seu mestrado em turismo na UFPR (Universidade Federal do Paraná). A descoberta mudou os rumos de sua pesquisa para a relação do Turismo com o Autismo, gerando um estudo inédito sobre a oferta turística adaptada ao autista em diversos países. 

Terminada sua pesquisa, a agora mestra apresentou a ideia para a gestão da Abitur que aceitou a proposta. Para a execução do projeto, firmaram parceria com a ONDA-Autismo que já executa a capacitação nas empresas através do Projeto Empresa Amiga da Pessoa Autista. A iniciativa oferece um selo de certificação aos estabelecimentos para que toda a comunidade reconheça aquele local como acessível.

A ONDA uniu forças ao Instituto Ico como mais um parceiro para o projeto. Com isso, até o mês de abril de 2023 acontecerão os encontros para a capacitação e ainda, ao longo do processo, as empresas contarão com uma consultoria personalizada para atender a comunidade do autismo.

Segundo a Abitur, a ideia é estender o projeto para as outras ilhas que representa. Além da Ilha do Mel, a associação representa Ilhabela-SP, Fernando de Noronha-PE e Ilha Grande-RJ. “A Ilha do Mel-PR servirá de piloto nesse projeto que visa o fomento e o desenvolvimento do turismo do destino turístico”, afirmou Dayanny Feitoza, executiva da Abitur.

Capacitação dos estabelecimentos  

Na segunda-feira, 5, o grupo que desenvolve o projeto esteve na Ilha do Mel para a capacitação das comunidades de Encantadas e Brasília. O workshop de sensibilização é a primeira fase do projeto e contou com a participação do presidente da ONDA-Autismo, Fabio Cordeiro.

A proposta leva em consideração as necessidades das pessoas com TEA em viagens e atividades de lazer. “Envolve questões de seletividade alimentar e questões sensoriais, então o público que está trabalhando diretamente com pessoas com TEA precisam primeiramente conhecer sobre o autismo, saber quais são suas necessidades. Os estabelecimentos não necessariamente precisam de grandes investimentos”, destacou Dayanny.

Um hotel, por exemplo, pode oferecer um quarto com isolamento acústico, luzes amenas e um questionário antes da estadia, para conhecer as preferências e necessidades do hóspede. “Podendo até oferecer assim algo mais específico no cardápio que venha a ser colocado pelo hóspede, recreação treinada e check-in prioritário”, afirmou Dayanny.

O segundo encontro será realizado em fevereiro para a capacitação básica que inclui os temas: Excelência em atendimento de inclusão; Introdução ao Transtorno do Espectro autista; Explicando o autismo para outras pessoas; Prevenção do comportamento inadequado; entre outros.

O terceiro passo será uma consultoria individualizada para cada empreendimento participante, onde será feito um checklist de inclusão para o autismo, diagnóstico da acessibilidade e um relatório com sugestões. 

Benefícios do projeto

Segundo a pesquisadora e idealizadora do projeto, em suas pesquisas foi identificado que o maior impedimento dos pais viajarem com filhos autistas é o medo da exclusão social do filho e que ambientes adaptados favorecem as viagens.

“E mais do que isso constatou-se que esse é um bom negócio uma vez que aumenta, em média, 60% a demanda. Diante disso, eu tive a ideia e a vontade de trabalhar para o avanço dessa questão no País, visto que o acesso ao lazer é necessário para a qualidade de vida e deve ser praticado por todos”, declarou.

Todas as empresas participantes na Ilha do Mel receberão o Selo Empresa Amiga da Pessoa Autista, que poderá ser anexado nos materiais promocionais e fixado no estabelecimento. “Turismo é um fator positivo no tratamento terapêutico da pessoa com TEA, contribui para a socialização para transpor a dificuldade que a pessoa com TEA possui em frequentar lugares diferentes e sair de sua rotina”, concluiu Dayanny.