O racismo é a denominação da discriminação e do preconceito (direta ou indiretamente) contra indivíduos ou grupos por causa de sua etnia ou cor.
O termo “racismo estrutural” tem entrado para as rodas de conversa e pautas de pesquisadores e estudiosos, atualmente. Mas, o que é de fato, o racismo estrutural? Para entender o que é o racismo estrutural, a reportagem da Folha do Litoral News conversou sobre o tema com o presidente do Conselho Municipal da Promoção e da Igualdade Racial de Paranaguá (Compir) e secretário da Frente Afro Litoral (FAL), Gerson Luis Augusto, que há mais de 35 anos milita na área.
Gerson comenta que o racismo estrutural é um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas presentes no dia a dia da população que promove, mesmo que sem a intenção, o preconceito racial.
“O racismo estrutural talvez seja uma das formas mais difíceis de você combater. É um sentimento que muitas pessoas têm dentro de si e desconhece que tem esse sentimento. Ele está ali, e uma determinada hora esse sentimento vai aflorar e vai se manifestar. É muito difícil quando você luta contra um problema ou contra um inimigo invisível. Você sente o mal que ele te faz, mas você não consegue enxergar ele claramente, e não dá para você defender-se ou até mesmo lutar contra. Então, eu acredito que o racismo estrutural é a forma mais difícil de você combater esse mal”, comenta Gerson, enfatizando que o tema havia avançado muito no país. “Ainda temos muito que avançar, todos os dias temos um caso e uma luta para enfrentar”, completa.
Pesquisa
O presidente do Compir destaca que em uma pesquisa entre as 500 maiores empresas no Brasil, chegou-se à conclusão que apenas 4% das pessoas que estava à frente dessas empresas eram negras, sendo em sua grande maioria brancos. “É impossível você acreditar que em um país aonde 55,6 por cento população segundo o IBGE é formada por negros e pardos, e somos tão poucos em cargos de comando. Então podemos ver o racismo estrutural em todos os lugares, inclusive no futebol. Hoje, se nós pegarmos o Campeonato Brasileiro vamos constatar que a grande maioria dos jogadores são negros, e, no entanto, quem está comandando ou dirigindo, em sua maioria é branco. Assim como a maioria dos técnicos de futebol hoje em atividade no Brasil também é formada po brancos, isso é uma forma de racismo estrutural, ou seja, o negro é muito bom para jogar bola, mas não tem capacidade para montar um grande time, ou fazer uma grande estratégia, ou dirigir um clube de futebol. Então são coisas assim que a gente tem de começar a ver e a pensar. Esse exemplo também podemos levar a outras profissões, inúmeros excelentes profissionais, mas que não acabam chegando à direção”, avalia Gerson.
Mudança de comportamento
Questionado sobre o que a sociedade precisa fazer para fazer essa mudança de comportamento, Gerson responde que é o de assumir que temos uma sociedade racista. “Boa pergunta. Primeiramente nós temos que entender o seguinte: o Brasil é um país racista, é um país de colonizadores, que o Brasil escravizou o povo negro e que o Brasil não viabilizou oportunidades iguais para os escravos que viabilizou para os imigrantes quando chegaram aqui. Nós somos um povo, e sem o `mimimi, ah lá vêm eles de novo com esse discurso de vitimologia e de mimimi`, mas não, meritocracia só existe quando todos partem do mesmo ponto de igualdade. Mas quando você tem um grupo que já sai da frente com educação, com posse, com dinheiro, com terra e com tudo, e que você entra somente com a mão-de-obra, e uma mão de obra desvalorizada, isso não é meritocracia, e nesse jogo, o povo negro entrou bem atrás mesmo”, destacou.
Combater o problema
“Se tem um povo que foi cerceado a educação foi o povo negro, se tem um povo que foi cerceado a manifestação cultural e religiosa foi o povo negro, então como dizer que não existe o racismo? Eu acho que a primeira coisa que devemos fazer para que possamos de fato combater este problema é chegarmos à seguinte conclusão: Sim, o Brasil é um país racista e todos nós temos que combater isso, independente da cor da pele. Todas aquelas pessoas que acreditam que não somos imagem e semelhança de Deus não há porque fazermos a diferença por causa da cor da pele, se todos nós conceito da mesma matéria”, externa Gerson.
Luta não pode retroceder
Gerson lamenta que nos últimos anos esse sentimento de luta tenha tido um retrocesso, e acabou aflorando nas redes sociais um retrocesso quanto a luta pela igualdade racial. “Nós pudemos acompanhar através das redes sociais nos últimos três anos uma barbárie de coisas produzidas e jogadas na Internet e que naquele período as pessoas achavam normal. Então quando você consegue identificar qual é o problema, qual é a doença, você consegue gerar um remédio ou um antídoto para combater esse mal e essa doença. Eu fico feliz porque eu acredito que nós estamos em uma caminhada no processo, e a nível de Brasil eu vejo que nós estamos retomando o tempo que perdemos nos últimos quatro anos. O governo do Estado do Paraná tem sido sensível a essa causa, o governo municipal da mesma forma. Acredito que essa discussão é importante e devemos travarmos em todos os lugares, como nas escolas, no trabalho, na família e nas igrejas, para assim podermos varrer de uma vez por todas esse sentimento terrível que o racismo”, finaliza.