Racismo Não

Combate ao racismo: expressões de cunho racista não devem ser utilizadas

Professora explica porquê é preciso repensar a utilização desses termos

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Termos e expressões como “mulata”, “a coisa está preta”, “criado-mudo” e outras são consideradas de cunho racistas. Essas e outras tantas são reproduzidas sem o conhecimento histórico, revelando um problema na sociedade. Portanto, mesmo que muitos termos sejam corriqueiros e não sejam ditos com o intuito de ferir, é preciso repensá-los como forma também de combater o racismo.

A professora e doutora em Educação, Dra. Edicelia Maria dos Santos de Souza, atua na Secretaria de Educação de Pontal do Paraná, é gestora do Projeto Afrolip e implementou em 2021 as leis 10.639/2003 (Ensino da Cultura Negra) e 11.645/2008 (que torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio).

Segundo ela, ainda é muito comum ouvir vocábulos desnecessários. “Muitos são utilizados na nossa linguagem do dia-a-dia e nas rodas de conversa onde tem negros e negras que não percebem a gravidade de sorrir diante de uma situação muito séria e que perpetua. Estes vocábulos geralmente são dirigidos aos negros em forma de brincadeiras, quando na verdade ofendem, ferem e tornam a população mais triste e vulnerável. Na minha opinião, não existe nenhuma necessidade de se usar qualquer vocábulo que relembre e cause sofrimento na nossa população”, explicou a professora.

Desta forma, repensar o uso desses termos e expressões pode ser uma contribuição na luta contra o racismo. “O conhecimento, a discussão, o debate com certeza vai fazer com que os vocábulos racistas saiam de circulação da nossa linguagem. É preciso falar sobre isso sempre em rodas de conversa, festas, aniversários, mas sempre informando o quanto fere um anjo de pele escura ser obrigado a conviver com esta linguagem ferina torpe e destrutiva”, ressaltou a professora.

Papel das escolas

A professora elucida que as escolas de educação infantil devem iniciar um trabalho a partir dos CMEIS (Centros Municipais de Educação Infantil). “É nas escolas que as crianças encontram seus semelhantes em sentimentos de amor e raiva. Então precisamos semear o amor no ambiente escolar. E faremos isso em conteúdos previstos pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que entre tantos deveres, reza em um dos seus inúmeros tópicos quanto a equidade e a diversidade”, frisou.

Edicelia ministra atualmente a formação em Erer (Educação para as Relações Étnico-Raciais), em Pontal do Paraná, voltado para professores. De acordo com ela, combater o racismo também é um papel das escolas que podem fazer a diferença neste processo.

“As escolas com suas diretoras, pedagogas e setor administrativo devem assumir este papel fundamental para combater o racismo para que tenhamos um futuro sem racistas”, destacou.

Porque não usar

No ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou a cartilha “Expressões Racistas: Por que evitá-las”, com uma listagem dos termos de cunho racista que explica didaticamente o motivo para serem assim entendidos. O objetivo é promover a mudança de hábitos e comportamentos nas pessoas e facilitar a exclusão de expressões idiomáticas que possam embutir preconceito racial.

“Mulata”, por exemplo, é possivelmente um dos termos mais polêmicos do vocabulário antirracista. Existem alguns argumentos que explicam a origem da expressão. A palavra serve para referir-se a mulheres negras que possuem o tom de pele mais claro, refletindo o preconceito ao estimular o clareamento da pessoa negra e pretender afastar a negritude do conceito de beleza.

Além disso, o protótipo da mulata brasileira estimula a hiperssexualização da mulher negra transformando-o em um objeto de desejo permanente. Outros autores ainda indicam que “mulata” é sinônimo de jumento.

Outra expressão muito corriqueira, “a coisa está preta”, associa a pessoa negra a coisas ruins. O sentido da expressão é referir-se a uma situação extremamente negativa. A forma mais correta de passar a mesma ideia seria pelo uso de expressões como “a situação é difícil”, “o caso é complicado”.

Já a expressão “criado-mudo” deve ser substituído por “móvel de cabeceira”. Isso porque uma das teorias que apontam a origem da expressão afirma que faz referência às pessoas negras escravizadas responsáveis pelos serviços domésticos, que tinham a atribuição de segurar objetos pertencentes a suas senhoras e senhores, servindo de apoio permanente. Além disso, deveriam agir de forma discreta e silenciosa para não causar nenhuma perturbação no ambiente. Sob essa perspectiva, a expressão se referiria, portanto, a essas pessoas escravizadas.

Outros exemplos de termos que não devem ser usados devido ao cunho racista: “barriga suja”, “boçal”, “cabelo ruim”, “chuta que é macumba”, “cor de pele”, “crioulo”, “denegrir”, “humor negro”, “inveja branca”, “lista negra”, “preto de alma branca”, “serviço de preto”, entre outros.

A cartilha “Expressões Racistas: Por que evitá-las” está disponível gratuitamente em https://www.tse.jus.br/institucional/biblioteca/biblioteca-digital/.

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Gabriela Perecin

Jornalista graduada pela Fema (Fundação Educacional do Município de Assis/SP), desde 2010. Possui especialização em Comunicação Organizacional pela PUC-PR. Atuou com Assessoria de Comunicação no terceiro setor e em jornal impresso e on-line. Interessada em desenvolver reportagens nas áreas de educação, saúde, meio ambiente, inclusão, turismo e outros. Tem como foco o jornalismo humanizado.