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Polícia

Familiares contestam versão de ocorrência que terminou com dois mortos na Ilha dos Valadares

Família de Bruno Costa Pires dá a sua versão sobre a ação policial

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Uma ação policial envolvendo guarnições da Patrulha Costeira, da Polícia Militar, registrado na tarde de sexta-feira, 2, na Ilha dos Valadares, em Paranaguá, terminou com dois rapazes mortos. Duas armas de fogo e estojos de munições deflagradas foram apreendidas na ocasião.

DENÚNCIAS

De acordo com a Polícia Militar, os militares realizavam diligências no bairro Vila Rocio por conta de informações recebidas sobre a autoria de um homicídio ocorrido na quinta-feira, 1.º, no bairro Vila Guarani, e também com relação a denúncias repassadas através do 181, Disque Denúncia da Secretaria Estadual da Segurança Pública sobre o tráfico de drogas na região do Complexo Esportivo.

Ao se aproximarem de um imóvel indicado como ponto de venda de drogas, na Rua 33, os policiais afirmam que encontraram um portão de madeira reforçado e trancado, e o local monitorado por câmeras.

Durante o procedimento de abordagem, as equipes perceberam que alguns homens pularam o muro dos fundos do terreno e fugiram correndo. Os suspeitos foram perseguidos pela corporação e um deles foi abordado e preso. Claudio Matheus Costa Pires, de 27 anos, não portava nada de ilícito. Neste momento, os policiais ouviram os primeiros disparos de arma de fogo e segundo eles, procuraram abrigo.

Os militares visualizaram dois suspeitos atravessando o Complexo Esportivo e seguindo na direção da beira mar. Segundo a corporação, a dupla tentou se esconder entre ranchos de pescadores e um acesso a localidade conhecida como “Campo do Rocio”. Na tentativa de abordagem, houve novos disparos e no revide, segundo os policiais no local, Bruno Costa Pires, de 22 anos, e Pedro Renato da Silva, de 23 anos, foram alvejados e morreram. Socorristas do SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência foram acionados e constataram o óbito.

Ao lado dos corpos foram encontrados dois revólveres calibres .38 e várias munições deflagradas nos tambores. A área onde a ação aconteceu ficou isolada até a chegada da Criminalística e do IML – Instituto Médico Legal de Paranaguá. Após a perícia, os corpos foram recolhidos.

O QUE DIZEM OS FAMILIARES

Os familiares das vítimas estiveram no local e na ocasião contestaram a versão apresentada pelas equipes policiais. O caso será apurado através de um inquérito policial militar.

VERSÃO DA FAMÍLIA

Familiares de Bruno Costa Pires, de 22 anos, procuraram o departamento de jornalismo da Folha do Litoral News para apresentar a sua versão sobre o caso que aconteceu na Ilha dos Valadares, na tarde de sexta-feira, 2. Toda a entrevista foi gravada bem como autorizada pelo pai de Bruno Costa Pires, um dos rapazes mortos na sexta-feira, 2, na Ilha dos Valadares.

“Eu sou pai do Bruno Costa Pires. Aconteceu uma situação lamentável, despreparo total da polícia dentro da cidade, onde estava eu, meu filho Bruno, meu filho Matheus, meu sobrinho Lucas e esse rapaz que estava junto e morreu. Eu nem conhecia esse rapaz, meu sobrinho Lucas é tatuador, e esse rapaz pagou uma tatuagem para fazer com o meu sobrinho e meu sobrinho passou na minha casa para falar com meu filho e ia para o estúdio com ele para tatuar. Quando eles conversaram com a gente e foram sair, disseram que estava cheio de polícia na frente. Nós temos câmeras lá em casa e quando eu olhei na câmera tinha quatro carros de polícia batendo no meu portão e ele se desesperou, e começou a correr”, explica o pai de Bruno. “Meu filho me disse que não ficaria ali também devido a situação que estava acontecendo. Eu, pai, fui errado. Em 2015 eu participei de uma situação ali nos Guardas Municipais. Fui preso, condenado e paguei pelo meu erro, fiquei oito anos preso, fechado. Saí e estou tentando fazer a minha vida. Só que como vou fazer minha vida se eles não me dão paz, se eles não me deixam sossegado”, declara o pai.

Ele relata que “Dias atrás, entraram na minha casa, pegaram meu filho mais velho, o Claudio, que também aconteceu com ele no mesmo dia que mataram meu outro filho, levaram para trás de casa, enforcaram, bateram, jogaram cinco gramas de cocaína na boca dele e jogaram ele, onde tivemos que pegar, levar para o hospital, socorrer, levar para a delegacia para fazer o ocorrido e ficou por isso mesmo. Passaram os dias, eu estava em casa e um amigo dele falou assim “ei, tem como você pegar a chave pra eu ir lá comer”, eu disse claro. Eu fui pegar uma chave numa casa, quando eu voltei tinha quatro viaturas, fecharam a rua e estavam me esperando, como se eu fosse o maior marginal do mundo”, declara. “Eu paguei pelo meu erro, já paguei por isso, o que eles querem mais? Quase acabaram com a minha vida, com um monte de fuzil na minha cabeça, já foram lá na minha casa e acabaram com tudo, não acharam nada porque não tem nada, não existe, eu mudei de vida”, disse o pai.

Acontecido na Ilha dos Valadares

O pai do Bruno contou alguns detalhes de como a ação aconteceu, desde o momento da chegada das equipes policiais até a morte do seu filho. “Tudo isso eu estou contando para vocês terem ciência. Eu estava em casa lavando roupa e aconteceu isso, estava cheio de polícia, o guri saiu correndo e meu filho foi atrás dele, só que eu não conheço este rapaz, só sei que só ouvi o tiro. Eu moro na Rua Natanael Corá, ao lado do Complexo Esportivo da ilha, onde eles deram os tiros, só que foi jogado o corpo do meu filho a mais de 800 metros, longe, lá na Vila Rocio. Se foi confronto, eles foram dali até 800 metros atirando até ele cair lá na frente? Não tem como”, contou o pai de uma das vítimas.

Segundo o pai do Bruno, seu filho não estava armado e sua família só quer viver em paz. “Meu filho não estava com arma, ele é trabalhador, a população inteira está revoltada e no dia falaram “vamos invadir tudo aí pra ver o teu filho”, eu disse que não, sabe porque, eles nos conhecem. Nós queremos mudar de vida, nós queremos viver. Eu estou velho, olha a situação que está acontecendo comigo, perdi meu filho, porque eles têm raiva de mim e o que meu filho tem a ver com isso? Nada. O prazer dele ter estourado meu filho é pra me ver sofrer, é isso que eles querem. Sabe o que ele falou na minha cara: “eu vou te matar, não interessa hoje, amanhã, eu vou te matar”. O advogado discutiu com ele lá no quartel, sabe o que ele disse na cara do advogado “matei mesmo, matei ele, sabe porquê? Foram eles que deram os tiros nos guardas “. Não foi meu filho, fui eu, só que paguei por isso”, disse o pai.

Família diz que quer justiça para Bruno

A família de Bruno Costa Pires relatou que está com advogado e seguindo os trâmites legais para buscar justiça. “Nós já pegamos advogado, ele já acionou a Corregedoria, já falou que tirou todos os armamentos para a perícia e já foram afastados os policiais, onde meu filho foi dar o depoimento no Fórum, porque no dia ele estava sem condições de depor. Eu quero falar também que o que foi posto na matéria, devido eles falarem em confronto, é mentira, pois meu filho nem arma tinha, nunca teve arma. Aí ele chega e dá os tiros no meu filho sem poder se defender, coloca a mão na frente. Eu entrei no IML e os caras do IML me falaram que me entendem. Ele levou três tiros, dois acertaram no braço e eu perguntei o porquê no braço, aí me responderam ser a reação do ser humano sempre esconder a cara e quando atiraram ele foi colocar o braço na frente, por isso acertou no braço e atingiu o coração. A bala que acertou o coração matou ele na hora, só que ele foi se defender. Isso não se trata de confronto, se trata de execução”, relatou.

“Como eu falei, eu cometi um crime e peguei por ele, não devo mais nada, só que nunca esqueceram isso, toda vida no meu pé. Hoje eu estou aqui porque levaram o meu filho. Se me matarem você já sabe quem foi, porque ele falou “eu vou te matar”, e eu sei que ele vai vim mesmo, por isso que eu estou tentando falar antes que aconteça, porque levar o meu filho mais velho, levaram o mais novo e quem sabe amanhã serei eu e daí? Então, por isso quero deixar bem claro, eu vou procurar a Justiça, pois se alguma coisa acontecer comigo, já sabem quem procurar, é ele mesmo”, completou o pai do Bruno.

A família da vítima finalizou reforçando que buscam pela justiça. “A única coisa que eu quero é retomar minha vida, eu quero viver, só isso. Só não acho justo eles tirarem a vida do meu filho sem merecer. Por isso, que eu estou aqui, porque eu quero só justiça. Quem me conhece sabe, eu poderia fazer *M…* mas eu não quero mais. Eu acredito que exista justiça. Como eu fui condenado a oito anos para pagar pelo meu erro, eu também quero que eles paguem pelo erro deles. Porque eles não pagam também? Hoje eu fui lá no local onde mataram o meu filho, eu conheço todo mundo, eu moro há 45 anos no Valadares. E amanhã se tirarem a vida de outra pessoa, de qualquer um, o que vai acontecer? Ninguém fala nada porque é polícia. Se alguém falar, desculpa que se a gente falar eles vão vir aqui daquele jeito. A situação não é mais com a gente, é com outras famílias que estão fazendo. É justo uma família com medo de polícia? A polícia não está aí para te proteger? Onde está a justiça, a lei? Deixem eu viver.  Eu saí da cadeia faz seis meses. Nesses seis meses eu já fui preso mais de sete vezes, só que chego lá e não tenho nada e eles têm que me soltar novamente. É só o prazer deles pegarem e baterem, é só isso. Eu quero o que é certo, o que é a verdade”, disse o pai.

  • Entrevista transcrita na íntegra e autorizada a ser publicada pelo pai do Bruno Costa Pires, o qual procurou a Folha do Litoral News para relatar a sua versão

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