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Direito & Justiça

Feminicídio: como a cultura do machismo tem contribuído com a violência

Psicóloga revela o perfil do agressor e ressalta que não há justificativa para os crimes

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Diversos casos de feminicídio têm sido divulgados na mídia nos últimos anos. Os índices assustam e revelam uma realidade que condiz com a cultura do machismo instituída e que começou a ser desmistificada e questionada pela sociedade. O perfil dos agressores que ferem e até matam suas namoradas ou esposas, moral ou fisicamente, foi analisado pela psicóloga clínica e hospitalar, Jadja Ruhoff.

Segundo ela, muitas vezes o relacionamento que chega neste estágio é pautado pelo ciúmes, uma das características presentes no perfil dos agressores. “O perfil dos agressores que cometem feminicídio é bastante simples. De acordo com os estudos da área de psicologia forense e também das pessoas que vemos nas clínicas, são pessoas extremamente ciumentas, enxergam a mulher como objeto, a característica central é o sentimento de posse em relação à mulher. Eles veem a mulher como inferior ao homem, têm essa objetificação, ele está muito preocupado com sua imagem social. Geralmente, eles têm muita imaturidade emocional, não sabem lidar com as situações e enxergar a mulher com os mesmos direitos que eles, além de baixa autoestima”, revelou Jadja.

A psicóloga lembrou que os agressores normalmente não procuram tratamento, sendo muito mais comum encontrar em clínicas pessoas que são agredidas, embora elas demorem bastante tempo para buscar ajuda. Isso acontece porque normalmente eles não se veem como agressores.

“Amor não tem nada a ver com ciúmes, não tem nada a ver com posse, nada a ver com poder em relação a outra pessoa”, destacou a psicóloga clínica e hospitalar, Jadja Ruhoff

SOCIEDADE MACHISTA

A cultura do machismo, na qual o homem se sente superior à mulher, muitas vezes é utilizada como forma de justificar os casos de agressão. “Acredito que os casos de violência contra a mulher sempre existiram, pois vivemos em uma sociedade machista. Antigamente se falava dos crimes de honra, passionais, o comportamento da mulher era utilizado para justificar o comportamento abusivo e agressivo do homem. Hoje, a mulher tem uma gama de ações que antigamente não tinha, ela sai, trabalha, tem mais espaço na sociedade. E, com isso, os homens não conseguem aceitar e acabam tendo atitudes que as punem por essa liberdade maior”, considerou Jadja.

De acordo com a profissional, as mulheres ainda não encontraram uma maneira de se libertar de situações abusivas e ainda existe um preconceito muito grande com aquelas que sofrem com isso. “Muitas fazem o boletim de ocorrência, mas não conseguem se desvencilhar dessa violência. Poucos municípios hoje têm um atendimento eficaz para proteger as mulheres disso”, pontuou Jadja.

MUDANÇA

O lado positivo é que a sociedade está cada vez mais discutindo sobre o tema. Para a psicóloga, esse é o melhor caminho para mudar a realidade. “Já está começando a haver uma mudança, as pessoas começaram a prestar mais atenção a esses casos e, por isso, hoje são mais divulgados. Amor não tem nada a ver com ciúmes, não tem nada a ver com posse, nada a ver com poder em relação a uma outra pessoa. O amor e a paixão têm a ver com deixar o outro livre. Mulheres e homens têm os mesmos direitos e isso que é preciso: discutir o machismo e o porquê de dar a outra pessoa o direito de dizer o que você pode ou não pode fazer”, afirmou Jadja.

Além disso, é importante que homens e mulheres tenham os mesmos direitos. “O ciúmes demonstra insegurança, raiva, inveja, problemas de autoestima. As pessoas devem começar a questionar isso, os seus relacionamentos. Quando uma mulher conquista algo, muitas vezes escutamos que para uma mulher está bom, é tudo tão questionável, por que naturalizamos isso e é tão diferente entre homens e mulheres? As diferenças são naturais, mas tratar as pessoas de maneira diferente em função do gênero é totalmente errado. Uma relação tem que trazer o bem, para que as pessoas sejam melhores”, considerou Jadja.

NÃO HÁ JUSTIFICATIVA PARA OS CRIMES

Outra forma de propor a mudança é incutir na sociedade o pensamento de que não há justificativa para os crimes de feminicídio. “Todos esses crimes não podem ser justificados, não existe 'eu fiz por amor', temos que debater isso na educação. É só assim que vamos mudar a cultura, e criar nas mulheres empoderadas. Os agressores não podem encontrar o apoio na sociedade para o que fizeram, porque não existe justificativa para que você agrida alguém, para matar alguém. É um processo, mas acredito que já esteja mudando. Não se muda a cultura de uma sociedade de um momento para outro. Mas a conscientização precisa ser difundida”, concluiu a psicóloga Jadja.

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