A Icnografia na Arte – Pe. Antonio
O culto das santas imagens inicia-se no decorrer do século V, segundo nos mostra Danielou e Marrou, e experimenta um brusco impulso no século VI, durante e após Justino II (565-578), no Império Bizantino. Desde suas origens, segundo os mesmos Danielou e Marrou “a arte cristã (…) havia desenvolvido uma iconografia religiosa e havia representado tipos ou cenas tomadas de empréstimo à Sagrada Escritura para seus muros e monumentos. Tais representações, além da função decorativa e pedagógica, possuíam já um certo valor de sacralização.” Ao longo dos séculos, do começo da arte cristã até hoje, percebe-se que há diferenças entre as representações artísticas do Cristo. Não é simplesmente a observação de que a arte mais antiga seja diferente, ou uma mais moderna seja mais desenvolvida. Há que se diferenciar dois estágios da arte cristã: a arte sacra e a arte religiosa.
ARTE SACRA E ARTE RELIGIOSA
Segundo Cláudio Pastro, existem dois conceitos sobre arte, que não são meras noções, mas possuem diferenças radicais. Trata-se da arte sacra e da arte religiosa. Para Pastro, “a arte sacra, discreta e em estrita ligação com a liturgia, faz um todo com o espaço sagrado. A arte religiosa, ao contrário, pode decorar uma sala, um quarto… e até uma capelinha”. Uma imagem de culto, que é uma arte sacra, manifesta a existência de Deus; ela é sagrada ética e religiosamente. Ela tem autoridade em si mesma, produz no fiel uma atitude de respeito, comoção, adoração, temor e tendência a aproximar-se. Essa imagem sugere ao fiel que adore a Deus. Ela provém do pneuma, do Espírito Santo. Já numa imagem de devoção, que é uma arte religiosa, se sente a personalidade de um homem determinado. Esse tipo imagem mostra a vida pessoal do artista, suas reflexões de fé, lutas e buscas internas. A imagem de devoção é fruto de um artista, de um bom artesão. O artista de uma imagem de culto não cria, mas serve á Presença, contempla. O objetivo da arte sacra consiste em exprimir pelo visível o Invisível, em revelar a imagem da natureza divina impressa no criado, mas oculta nele, realizando objetos visíveis que sejam símbolos do Deus Invisível. São Nicéforo e São Teodoto Studita consideravam a veneração do ícone como parte integrante da Liturgia, à semelhança da celebração da Palavra. A arte sacra é, segundo Cláudio Pastro, “como um prolongamento do Mistério da Encarnação, da descida do Divino no criado”. É arte de culto a decorar as paredes das igrejas e a iconostase, seu santuário, com os principais mistérios bíblicos da fé. Sendo assim, o artista não pode deixar-se guiar pelas suas próprias inspirações; seu trabalho não consistirá em exprimir a sua personalidade, mas procurará a forma perfeita que corresponda a Protótipos Sagrados de inspiração celeste, através da celebração comunitária e da oração pessoal que filtra a intenção subjetiva do artista e faz brotar o seu conteúdo objetivo. Continua.