Costumeiramente, a pessoa que participa de uma live ou faz uma postagem no facebook aguarda que apareçam muitos “corações” vermelhos; assim se sentirá amada e valorizada. Desde quando esse pequeno ícone tem tanto poder de qualificar nossas ações e indicar que somos amados?
O Testamento cristão – retomando o Testamento hebraico: “Escuta, Israel” (Dt 6,4-5) – apresenta às comunidades neste 31º Domingo do Tempo Comum a centralidade do amor: Mc 12,28-34. Jesus alcançou a sua meta, entrou na Cidade Santa, Jerusalém. Ao longo do caminho foi anunciando o mistério de sua paixão: “Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e dos escribas; eles o condenarão à morte e o entregarão aos gentios, zombarão dele e cuspirão nele, o açoitarão e o matarão, e três depois ele ressuscitará” (Mc 10,33-34). O cume do mistério do amor está na entrega de sua vida, verdadeira manifestação do amor ao Pai e aos irmãos. Mas, poderia um amor-entrega da vida receber pelas redes sociais muitos “corações”? Não estamos precisando resgatar o sentido mais profundo do amor e (re)aprender a amar?
Quase ninguém pensa que o amor é algo que se pode ir aprendendo pouco a pouco ao longo da vida. A maioria das pessoas considera que o ser humano sabe amar espontaneamente. Não seria, justamente por isso, que detectamos tanta ambiguidade e sofrimento nesse mundo misterioso e atraente do amor?
Há quem pense, por exemplo, que o amor consiste fundamentalmente em ser amado. Por isso, passam a vida se esforçando para conseguir que alguém os ame. Para estas pessoas, o importante é ser atraente, ser agradável, ter uma conversa interessante, fazer-se querer. Alcançarão felicidade?
Outros, por sua vez, estão convencidos de que amar é algo simples, e que o difícil é encontrar pessoas agradáveis às quais se possa querer. Só se aproximam de quem lhes parece simpático. Mas, não encontrando tais pessoas, o seu «amor» desaparece.
Há também aquelas pessoas que confundem o amor com o desejo. Reduzem tudo a encontrar alguém que satisfaça o seu desejo de companhia, de afeto ou de prazer. Quando dizem “Eu te amo”, na realidade estão dizendo “Eu te desejo”.
Quando Jesus fala do amor a Deus e ao próximo como a coisa mais importante e decisiva da vida, indica outra coisa. Para ele, o amor é a força que move e faz crescer a vida, pois pode nos libertar da solidão e da separação para nos fazer entrar na comunhão com Deus e com os outros.
Concretamente, o amor proposto por Jesus requer um verdadeiro aprendizado, sempre possível para quem o tem por Mestre.
Aprender a escutar o outro. Sem essa atitude sincera de “escutar” os sofrimentos, necessidades e aspirações da outra pessoa o amor não é verdadeiro.
Aprender a se doar. O amor existe onde há entrega generosa, doação desinteressada. O amor é todo o contrário de acumular, apropriar-se do outro, usá-lo, aproveitar-se dele.
Aprender a perdoar. Aceitar o outro com as suas debilidades e a sua mediocridade. Não retirar rapidamente a amizade ou o amor. Oferecer muitas vezes a possibilidade de reencontro. Devolver o bem pelo mal.