“Irmão sol, irmã lua” figura entre aqueles filmes capazes de comover profundamente as pessoas. Franco Zeffirelli, diretor e um dos roteiristas, apresenta sua visão sobre a vida de Francisco de Assis, marcada por uma grande transformação que deu sentido à sua vida. Vencido na guerra, feito prisioneiro e doente, Francisco percebeu que seu estilo de vida e os ideais de grandeza que tinham existido em seu coração não sobreviveram, tudo ruiu. Francisco, com grande liberdade, abraçou a pobreza e amou a Cristo profundamente, ao ponto de participar de seus sofrimentos, recebendo em seu corpo as marcas da paixão de seu Senhor, as cinco chagas. O filme é antigo, mas a realidade de busca de sentido para a vida que ele retrata continua atual.
Segundo o Evangelho desse domingo, o 27º do Tempo Comum, Marcos 10,17-30, uma pessoa sem nome corre atrás de Jesus e lhe pergunta sobre o que realmente dá sentido à vida: “Bom Mestre, o que devo fazer para ganhar a vida eterna?” Tal pergunta indica também que ela reconhecia naquele pregador itinerante alguém capaz de ensinar, um mestre. Jesus procurou ajudá-la a se questionar sobre o que realmente conta na vida; recordou ações que a ajudariam a descobrir quem ela era, sua própria identidade. O mestre repropôs os mandamentos, especialmente aqueles que se referem à relação com as outras pessoas: não matar, não cometer adultério, não roubar, não levantar falso testemunho, honrar pai e mãe, enfim, não prejudicar ninguém. E aquela pessoa disse a Jesus ter sempre respeitado todos aqueles mandamentos. Jesus, então, olhou com amor para ela – um olhar gratuito e comprometedor – e revelou o que lhe faltava: deixar Deus ser o seu tesouro. Para isso era preciso passar pelo caminho da pobreza, abraçada livremente e não aquela importa pela injustiça social: “Vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!”
Tudo ia muito bem até esse momento, quando Jesus tocou na questão dos bens materiais: “Quando ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico”. Essa indicação da tristeza pode mostrar que Jesus e sua proposta atraiu aquela pessoa. Ela ficou triste porque de alguma maneira intuiu a alegria que não conseguia abraçar para si. Diante da pobreza, livremente escolhida, e do apego à riqueza, esta se mostrou tão potente a ponto de se tornar vencedora. A riqueza, nesse caso, determinou o seu agir e o seu viver. Nisso, Francisco de Assis foi muito diferente: com 24 anos, livre e feliz, renunciou a toda riqueza para desposar a “Senhora Pobreza”.
Quem sabe percebamos que aquela pessoa habita em cada um de nós, quando nossos ideais, por melhores que sejam, não conseguem oferecer sentido para as nossas vidas e, por isso, nem felicidade duradoura. Não poderíamos também (re)descobrir a alegria da solidariedade e da partilha?
Que nada nos roube a alegria de viver e de reconhecer a outra pessoa como nossa irmã.