O dia 06 de agosto é recebido com alegria pelo povo de Guaraqueçaba; uns para comemorar o feriado municipal, declarado em 1990, e outros para celebrar devotamente o Senhor Bom Jesus dos Perdões, em honra do qual se inaugurou uma pequena igreja, em 15 de junho de 1839. Essa devoção, trazida ao Brasil pelos portugueses, chegou ao nosso litoral via Iguape, onde encontra-se atualmente a meta de muitos peregrinos, o santuário do Bom Jesus de Iguape. Tal devoção marca a vida de muitas comunidades litoral paranaense, no continente e nas ilhas, especialmente em Antonina, na despojada e bela igreja do Bom Jesus do Saivá; em Bocaiúva do Sul,com numerosa e festiva participação popular; e em Paranaguá, onde a conhecida igreja de pedra guarda a devoção ao Senhor Bom Jesus do Emboguaçu.
Em Guaraqueçaba, a paróquia foi dedicada ao Senhor Bom Jesus dos Perdões. Curiosamente, ela foi criada duas vezes: em 1º de agosto de 1854, por Dom Antônio Joaquim de Mello, bispo da diocese de São Paulo, e extinta em 1890; e em 29 de março de 1964, pelo primeiro bispo da recém criada diocese de Paranaguá – que no último 21 de julho completou 59 anos de sua criação –, Dom Bernardo José Nolker.
Essa devoção conduz o coração do devoto a Jesus Cristo, que na noite em que foi traído, sofreu torturas por parte dos soldados romanos: “os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, e reuniram toda a tropa em volta de Jesus. Tiraram a roupa dele, e o vestiram com um manto vermelho; depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelhavam diante de Jesus e zombavam dele, dizendo: ‘Salve, rei dos judeus!’ Cuspiram nele e, pegando a vara, bateram na sua cabeça. Depois de zombarem de Jesus, tiraram-lhe o manto vermelho, o vestiram de novo com as próprias roupas dele; daí o levaram para crucificar” (Mateus, 27, 27-31).
Essa é a imagem de Jesus tomada da bíblia e honrada nesta devoção ao Senhor Bom Jesus: ele é apresentado como o homem das dores, o sofredor confiante e, por isso, sereno e valente. Essa é imagem da sofrida e dura realidade humana, com a qual as pessoas se identificam – porque Cristo por primeiro se identificou com ela – e, por isso, atrai certamente cada pessoa que sofre ontem e hoje. Quanta dor e sofrimento vemos a cada dia! Uns chegaram com a pandemia, outros, infelizmente, existiam muito antes dela, como a destruidora desigualdade social, e apenas foram por ela realçados.
A vida, porém, não é só esse duro presente! A festa do Senhor Bom Jesus acontece entre nós quando a Liturgia celebra a Transfiguração do Senhor, anúncio profético de sua ressurreição vitoriosa. Há, pois, acima de tudo, uma esperança capaz de gerar resistência e guiar as pessoas à transformação do mundo. A certeza de um mundo novo pode sustentá-las nas várias e difíceis lutas diárias, a fim de seja vitorioso tudo aquilo que dignifica a pessoa humana, incluindo as condições sanitárias básicas e o acesso à vacina contra a covid-19 e outras doenças que pareciam ter sido eliminadas do nosso meio como, por exemplo, o sarampo.
Esperamos que nossa Paranaguá, com seus recém cumpridos 373 anos, continue escrevendo a valentemente e bonita história de lutas e vitórias, à luz de sua arraigada devoção.