O Natal nos dá a oportunidade de ouvir novamente a profecia de Isaías (9,1-6): “O povo que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu”. Pandemia, empobrecimento, corrupção, violência, sofrimentos e desânimo são alguns dos sinais daquela escuridão denunciada pelo profeta e que temos experimentado. Poderíamos inclusive dizer que se acabaram nossas forças e nossa esperança, que não tem mais jeito, está tudo perdido. E justamente ao experimentar essas “sombras da morte” torna-se possível ver resplandecer uma luz, o nascimento daquele que faz crescer a alegria e aumentar a felicidade: “nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho”. Se a recordação de tantas dores nos entristece, há uma lembrança que enche de esperança: “o amor de Deus não acaba jamais e sua compaixão não tem fim; ao contrário, a cada manhã se renovam” (Lm 3,22). Esse Menino é “Jesus Cristo, nossa esperança” (1Tm 1,1). Tal esperança bate à porta e deseja ser acolhida, pois ainda hoje não há lugar para Jesus nascer: “Ela [Maria] o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,6-7).
A esperança se alcança na prontidão de quem procura: “Vamos a Belém […]. Foram, então, às pressas, e encontraram Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2,15-16). “Ao contrário de tanta gente ocupada a fazer muitas outras coisas, os pastores tornam-se as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que nos é oferecida. São os mais humildes e os mais pobres que sabem acolher o acontecimento da Encarnação. A Deus, que vem ao nosso encontro no Menino Jesus, os pastores respondem, pondo-se a caminho rumo a Ele, para um encontro de amor e de grata admiração. É precisamente este encontro entre Deus e os seus filhos, graças a Jesus, que dá vida à nossa religião e constitui a sua beleza singular, que transparece de modo particular no Presépio” (Admirável mistério, 5).
Aquele que nasceu pobre, levou uma vida simples e, por isso, nos ensina a identificar e viver do essencial, sem nos iludir pela riqueza e nem por outras falsas propostas de felicidade, que nos deixam surdos ao anúncio da grande alegria para todo o povo: “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor. Isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um recém-nascido, envolto em faixas e deitado na manjedoura” (Lc 2,11-12). Queremos nos inspirar em Herodes – fechado em seu palácio, alheio ao anúncio de salvação – ou nos pastores, que foram depressa à procura do Menino, recordando-nos que temos necessidade de seu amor e de sua proximidade?
Com seu Natal, Jesus inicia a única verdadeira revolução que dá esperança a todos: “a revolução do amor, a revolução da ternura. Do Presépio, com meiga força, Jesus proclama o apelo à partilha com os últimos como estrada para um mundo mais humano e fraterno, onde ninguém seja excluído e marginalizado” (Francisco, Admirável mistério, 6).
Desejo a todos uma santa e feliz festa do Nascimento do Salvador, Jesus Cristo, nossa esperança.