Este terceiro Domingo da Páscoa nos apresenta o relato dos discípulos de Emaús: Lucas 24,13-35. Após a morte e sepultura de Jesus, dois dos seus seguidores vão pela estrada desanimados, tristes, fugindo, carregando nos ombros um pesado fardo: “nossa esperança morreu”. Eles são imagem de todos nós, quando a cruz parece ser maior e mais pesada: insegurança, desemprego, falta de atenção séria à saúde, falta de dinheiro, doença, medo da morte. Como para aqueles dois discípulos, parece que também para nós não há saída. Chegamos ao ponto final. Mas, nesse momento, Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles. Porém, seus os olhos estavam “vendados”, tinham perdido o sentido de viver em comunidade. Algumas mulheres testemunharam, tentado ajudar: “Jesus está vivo”. Mas eles se recusaram a acreditar nelas (Lucas 24,22-24).
Pelo caminho, Jesus fazia-lhes perguntas, como que ajudando os dois a reconhecerem a realidade, a aprofundarem o motivo daquela tristeza e fuga. E, também, falava-lhes das Escrituras: a bíblia, pouco a pouco, aquecia o coração deles; mas não conseguiam abrir os olhos. Quando, porém, acolhem Jesus em sua casa – “Fica conosco, Senhor” – e ele sentou-se à mesa e partilhou com eles a vida, a oração e o pão, seus olhos se abriram. Tudo ganhou sentido: a necessidade de encarar com realismo o caminho de dor e frustração, sem mascará-lo (máscara é só para proteção!); a escuta da Palavra; a partilha! Eles fizeram a mais importante experiência de fé: Jesus está vivo, está no meio de nós! (Lc 24,30-31). A esperança ressuscitou!
O Papa Francisco, na homilia de domingo passado, 19 de abril, deu nome a essa esperança: solidariedade. Referindo-se à recuperação lenta e fadigosa da pandemia, considerou o perigo de sermos contaminados por um novo vírus, ainda pior do que a Covid-19: “o vírus da indiferença egoísta. Transmite-se a partir da ideia que a vida melhora se vai melhor para mim, que tudo correrá bem se correr bem para mim. A partir dessa compreensão de futuro, chega-se a selecionar as pessoas, a descartar os pobres, a imolar no altar do progresso quem fica para trás. Esta pandemia, porém – a do novo coronavírus –, lembra-nos que não há diferenças nem fronteiras entre aqueles que sofrem. Somos todos frágeis, todos iguais, todos preciosos”. O Papa espera que a triste e dolorosa situação da pandemia provoque grandes mudanças: “é tempo de remover as desigualdades, sanar a injustiça que mina pela raiz a saúde da humanidade inteira! Aprendamos com a comunidade cristã primitiva, que recebera misericórdia e vivia usando de misericórdia, como descreve o livro dos Atos dos Apóstolos: os crentes «possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um» (At 2, 44-45). Isto não é ideologia; é cristianismo”.
Insistia: “aproveitemos esta prova como uma oportunidade para preparar o amanhã de todos, sem descartar ninguém. De todos. Porque, sem uma visão de conjunto, não haverá futuro para ninguém”.
Sim, a esperança está viva e se revela na solidariedade concreta e articulada, pensada e vivida de modo comunitário, em nível de grupos, bairro ou cidade.