Em 1928 partia do Rio de Janeiro rumo a Nova Iorque uma expedição que pode ser considerada a aventura do século. Leônidas Borges de Oliveira, um tenente do Exército, Francisco Lopes da Cruz, conhecedor de engenharia e navegação, e o mecânico paulista Mário Fava, então com 21 anos, que entrou no projeto após a desistência do mecânico original, seguiram pela chamada rodovia Pan-Americana, caminho até hoje não completamente construído.
Fava ficou responsável por cuidar dos dois veículos da expedição, um Ford-T, doado pelo jornal “O Globo” — que tinha apenas duas marchas para frente e uma ré — e uma caminhonete Ford, doada pelo “Jornal do Comércio”. Cruz, o observador da expedição, manejava o sextante e um teodolito para a navegação, calculando o posicionamento global. Ainda assim ficaram quatro meses perdidos na selva na Colômbia, sem comida e água. Indígenas ajudaram a retomar a jornada.
O trajeto passou por florestas quase impenetráveis, pântanos, rios caudalosos e pela Cordilheira dos Andes. Partes do caminho precisaram ser abertas com pás e dinamite. No Panamá, os veículos precisaram ser desmontados para seguir viagem pelos pântanos.
Na Cordilheira, sem combustível, Mario Fava inovou com uma solução alternativa misturando querosene e chicha, bebida fermentada produzida pelos povos indígenas. E para lubrificar o motor usou gordura de porco e de lhamas. Para não congelar a água, ele esvaziava o radiador à noite e recarregava pela manhã. Ele quase perdeu a vida duas vezes. Um ataque de onça, na no Pantanal Matogrossense, e quando a caminhonete deslizou num penhasco, no Peru.
Somente em 1936 chegaram aos Estados Unidos, depois de 27.631 quilômetros. Foram reconhecidos pela ousadia, inclusive por Henry Ford, pioneiro da indústria automobilística, que os recebeu em Detroit, na fábrica que produziu os veículos usados na viagem. Na Casa Branca, em Washington, foram recepcionados pelo presidente Franklin Roosevelt como heróis do desenvolvimento. No retorno, em 1938, foram recebidos pelo presidente Getúlio Vargas.
Agora, 80 anos depois, Mário Fava dá nome a um museu que guarda a memória da aventura de sofrimento, dor e glória, que exigiu inovação, criatividade e muito empreendedorismo.