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Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá

Entre Mares e Ofícios: Marinheiros, Calafates e as gentes do mar no Porto de Paranaguá do Século XIX

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Em princípios do século XIX, o porto de Paranaguá já contava com algumas pontes, trapiches e um estaleiro utilizado para reparos e construção de navios, além de comércios e vendas. Além das atividades de importação e exportação de mercadorias, é crucial compreender a dimensão humana do porto, ou seja, entender o papel e a importância dos seres humanos que animavam a cidade portuária. Este texto traz algumas considerações sobre os marinheiros, calafates e embarcados do porto de Paranaguá.

Em 1817, foram registrados em toda a vila de Paranaguá e seu termo 14 carpinteiros, 10 homens que trabalhavam como embarcados, 9 marinheiros e 1 calafate. A maioria desses homens declarou ter nascido na própria vila de Paranaguá. No entanto, é interessante observar que muitos eram originários de Portugal, especialmente do Bispado de Braga, Lisboa e Porto. Além dos trabalhadores brancos e livres, a maioria dos marinheiros e calafates eram escravos africanos e afrodescendentes. As listas de habitantes também indicam que os negociantes envolvidos na importação e exportação utilizavam escravos nos serviços de suas embarcações, desempenhando tarefas pesadas como limpeza, reparos, conserto de embarcação, carga e descarga e trabalho como marinheiros.

Conforme destacado por Luiz Geraldo Silva na sua obra “A faina, a festa e o rito”, a compreensão da navegação interna no Brasil no período dos séculos XVII a XIX está intrinsecamente ligada à exploração de escravos africanos, principalmente como marinheiros. Nas embarcações, os cativos exerciam diversas funções, incluindo pequenos reparos e consertos. Muitos navios, ao enfrentarem avarias no casco, ou colisões com pedras, buscavam o porto de Paranaguá para reparos, requisitando o trabalho de calafates e carpinteiros. Os calafates eram responsáveis por vedar espaços entre tábuas com alcatrão, realizar consertos, repregar tábuas soltas e arrumar rombos nos navios. Carpinteiros trabalhavam junto aos mestres construtores, ocupando-se da colocação de tábuas, conserto de mastros e demais trabalhos relacionados à madeira. A coexistência de homens brancos livres e escravos africanos e afrodescendentes como marinheiros é evidente nas matrículas de gente do mar do porto de Paranaguá. Apesar das desigualdades nas condições de trabalho, esses homens compartilhavam o mesmo ambiente e enfrentavam os mesmos desafios. Ao navegarem de um porto a outro, esses trabalhadores compartilhavam também o ritmo e a vida das cidades portuárias, trazendo movimentação e uma dinâmica própria aos lugares onde trabalhavam.

Priscila Onório Figueira

Historiadora/ Tesoureira do IHGP Biênio 2023-2024

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