Pandemia sem dar sinais de trégua, mortes em números elevados, notícias sobre violência, insegurança sobre o momento atual e futuro, ou seja, um quadro caótico nos assola. Profissionais da área de saúde mental alertam como é importante encontrar mecanismos para driblar todo esse conjunto de negatividade que pode, sim, nos afetar emocionalmente e nos adoecer.
Eu sempre encontro na arte um respiro. A tríade: filmes, livros e música me distraem e me aliviam nos momentos difíceis.
Portanto, é interessante apreciar algo mais leve, mas volta e meia acabo remando contra a maré. Assim, mesmo tendo conhecimento da sinopse, encarei o tão comentado “Pieces of a Woman” que, convenhamos, passa longe de ser um passeio no parque.
Confesso que não me arrependi, nem por um milésimo de segundo, em relação à escolha. Mas alerto que não é um filme fácil.
Durante o filme, você bem sabe que não está preso ao sofá da sala. Pode levantar, desistir de ver, desligar o aparelho…Mas não faz nada disso! Continua assistindo, num processo catatônico, sendo engolido pelo extremo realismo que, somente bons atores, roteiro privilegiado e uma direção impecável são capazes de entregar.
Logo no início, o filme nos mostra vinte e quatro minutos de um plano-sequência, em que arrasta o telespectador para dentro da cena e faz com que ele vivencie cada minuto como se estivesse ali, participando da história, sentindo todas aquelas emoções.
O longa retrata perda, luto, desconstrução, relacionamento, convivência, angústia, sofrimento, medo, dor, força, mudança, mágoa, afeto, fatalidade, cicatrizes emocionais, amor, raiva, traição, perdão, superação e tantos outros temas, que nos jogam numa imersão interna e reflexiva de horas (pra não dizer dias).
Shia Labeouf (a quem sempre torci o nariz), no papel de Sean, me fez lançar um novo olhar sobre sua atuação, mas é Vanessa Kirby, na personagem de Martha, que conduz o filme numa interpretação visceral. Que atriz!
“Pieces of a Woman” é um filme denso. Mostra a realidade bruta, sem filtros, confetes ou lapidação. Mas, por outro lado, nos diz que enfrentar a dor faz parte do processo de cura e que, por inúmeras vezes, será preciso visitar o fundo do poço para encontrarmos a força necessária que nos fará renascer.