Por: Kátia Muniz
“Fim” é uma série do Globoplay baseada no livro homônimo da autora Fernanda Torres. Por sinal, ela assina o roteiro do projeto audiovisual e também participa do elenco. Ao todo são dez episódios que foram sendo liberados de dois em dois a cada semana. Como a configuração acaba se tornando um teste de ansiedade, costumo aguardar o desbloqueio por completo para só então maratonar.
Li o livro, quando foi lançado em dois mil e treze, e apesar de ter gostado muito da escrita e da história, achei difícil conectar os vários personagens centrais e um tanto cansativa a alternância entre passado e presente, constante o tempo todo.
Recentemente, vi a série e tudo se fez luz. Como é bom observar cada personagem ganhar vida, rosto e voz. A técnica do flashback em momento algum polui ou é exagerado, pelo contrário, situa e dá a direção.
Apesar de ser uma experiência única e subjetiva para cada telespectador que a assistir, pra mim, ouso dizer que a nostalgia ora abraça, ora pega na mão e conduz pelos episódios afora.
Ambientada entre o fim dos anos 60, avançando para as décadas de 70 e 80, a série conta a história de cinco amigos que juntos divertem-se, entram e saem de várias situações conflituosas e, no meio disso tudo, chancelam o que nós mulheres já sabemos e, de certa forma, invejamos: a cumplicidade masculina. Homens se protegem e permanecem unidos.
Com um primoroso trabalho de reprodução de época, não há como não se encantar com a parede do banheiro coberta por azulejos no tom de azul. Ver e relembrar os fuscas coloridos a preencher as ruas. Impressionar-se com o fato de os automóveis não possuírem película escura nos vidros, algo tão comum atualmente. E, claro, a tão propagada liberdade sexual.
Costumeiramente me apaixono por roteiros que mostram a vida exatamente como ela é, sem maquiagem, filtros ou quaisquer outros recursos.
A vida com o cardápio completo: dissabores, alegrias, tristezas, problemas, angústias, medos, inseguranças, fragilidades, conquistas, arrependimentos …
Não estranhe se ao término do último episódio, ficar um tempo mais reflexivo, talvez com um olhar contemplativo. Será fruto do poder que a arte exerce sobre nós enquanto sussurra aos nossos ouvidos a importância de aproveitar e saborear essa lasquinha de tempo entre o nascer e o fim.