Por: Kátia Muniz
Viajei. Ao retornar, deparei-me com a geladeira sem o funcionamento para refrigerar.
Obviamente, não foi uma bela recepção. Nem bem coloquei as malas no chão e já havia
algo para resolver. Detalhe: em caráter de urgência, pois o calor, com temperaturas
escaldantes, tornava o aparelho imprescindível.
Dia seguinte, chamei um técnico. Não convencida com a avaliação, convoquei outro
profissional e, na sequência, mais um. Por fim, três resultados iguais e a sugestão para
adquirir um novo eletrodoméstico.
O fato é que não fui criada para me desfazer de objetos. Na casa dos meus pais, o
normal era consertar, fazer o devido reparo e somente em último caso comprava-se algo
novo.
Nunca consegui entender muito bem a facilidade que várias pessoas possuem para se
desvencilhar do que lhes pertence. Definitivamente, não é o meu caso.
Eu me apego. Talvez você esteja a pensar: “Que bobagem! Vínculo com uma
geladeira!”.
Pois é, dias atrás, ela comportava a ave natalina para a ceia. Ao longo dos anos,
conservou inúmeras sobremesas, todas feitas com muito amor. Nem consigo imaginar
quantas vezes abri a porta para buscar temperos, acondicionar as sobras das refeições, guardar os mantimentos comprados no supermercado, ou seja, nós tínhamos histórias e memórias em comum. Por isso, reluto em aceitar e questiono: Como assim parou de funcionar? Como assim comprar outra?
Desfiz-me do eletrodoméstico com o coração rasgado. Acompanhei a saída da geladeira
da minha cozinha em silêncio. Logo após, permaneci estática diante do espaço vazio
entre um armário e outro.
Confesso que tenho saudade do tempo que as coisas eram feitas para resistir. Presentes
de casamento completavam bodas juntamente com o casal. A dona de casa estufava o
peito e dizia com orgulho: “Esse fogão completou vinte anos”. “Olha essa batedeira!
Acredita que possui vinte e cinco anos?”.
Hoje em dia tudo é feito para não durar. O orçamento da troca de peças, muitas vezes,
iguala-se ao preço de um utensílio novo. “Não compensa consertar, melhor comprar
outro” ─ dizem por aí.
Assim, vamos nos despedindo do sofá, do micro-ondas, do televisor, do liquidificador,
do ventilador…
No entanto, o ato de livrar-se não ficou apenas restrito aos objetos. Anda cada vez mais
comum jogar fora amizades e amores.
É muito desolador viver na era dos descartáveis