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Crônicas

Cada amor ao seu tempo

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O primeiro amor veio aos 7 anos, e os encontrou na mesma sala de aula. O menino sentou ao lado dela e sorriu. Ela retribuiu. Daí em diante, entenderam que estavam namorando. Ela gostava de estar sempre perto dele, enquanto ele não ficava nem um pouco incomodado com a graciosa presença da menina. Passou a lhe trazer mimos: uma panelinha cor-de-rosa, um bulezinho cor-de-rosa, uma frigideirinha cor-de-rosa… A essa altura do campeonato, a irmã dele já deveria ter sentido falta dos utensílios domésticos da sua cozinha de brinquedo. Passavam o horário do recreio juntos, lado a lado, cada qual com o seu lanche, enchendo o coração de um amor carregado de pureza. Com o tempo, ele parou de trazer os mimos, e o olhar dos dois se perdeu em algum outro lugar. Assim, mesmo sem mencionarem nada, os dois perceberam que chegara ao fim aquele sentimento que mal havia desabrochado.

O segundo amor veio aos 10 anos. O garoto morava na casa ao lado. Bastava a menina se posicionar na janela que logo ele surgia para apreciar o “panorama”. Não mirava o céu, nem as nuvens, tampouco os pássaros, mas sim uma paisagem que tinha cabelo ondulado castanho e costumava usar vestido estampado. Ele olhava de lá, enquanto ela olhava de cá. Gastavam as horas nesse flerte inocente. Um dia, ela se encontrava na frente do portão de casa quando ele apareceu.  O primeiro “Oi” saiu trêmulo, engasgado, abafado, e o diálogo que surgiu em seguida foi tão rico em bobagens que cada um seguiu seu rumo. A partir daí, as janelas se entristeceram, pois nunca mais recebeu a presença dos dois. 

O terceiro amor a encontrou dançando e com horário previamente estipulado de voltar para casa. A Cinderela de tênis All Star e minissaia. Na seleção de músicas românticas, ele a convidou para dançar e, na impossibilidade de parar o tempo, ela atrasou o relógio, pois chegara à conclusão que valeria a bronca que receberia quando retornasse. O tempo que corria lá fora era totalmente diferente do que era registrado ali. Ele lhe roubou um beijo. O primeiro de muitos. E foi tudo tão bom até o dia que deixou de ser.

Os outros amores surgiram em novo formato. As expectativas nunca eram condizentes com a realidade. Havia regras de comportamento. Adequações. Mas eis que apareceu, sem ter sido convidado, um tal de “ciúme”, que costumava engolir horas preciosas de seus relacionamentos com discussões banais. Os presentes vinham em forma de buquês de rosas, caixas de chocolate, roupas, perfumes.

Foi-se o tempo que o amor cabia em panelinha cor-de-rosa, em janelas que flertavam e na inocência de atrasar um único relógio.

Por Kátia Muniz

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