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Centro de Letras

Olhar Sexualizado

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Por Alexandre Camargo de Sant’Ana

Bastante interessante nas notas a respeito dos grupos de moças passeando pela Rua XV ou se divertindo nas praças, é a maneira como os homens do jornal olham para elas. Esse olhar é visivelmente sexualizado e objetifica as jovens patrícias. Na maioria das vezes adjetivavam essas mulheres como belas, lépidas, risonhas e perfumadas, mas uma das descrições sobre alguns tons e soaria estranha até mesmo nos dias de hoje – principalmente por se tratar de “moças de famílias”, algumas talvez até da elite. Por conta disso, é muito curioso como em uma sociedade tão conservadora como a Paranaguá do início do século XX, isso pudesse ser publicado no principal jornal da cidade: “extasiando nos com as suas deliciosas formas, apezar (de) cobertas com artísticos e modelares vestidos”.

Imagine se agora, na nossa época, ocorresse uma concentração de moças solteiras na Praça Fernando Amaro em um domingo qualquer. As jovens passam algumas horas conversando e dando risadas na praça. Não agem de forma vulgar, usam longos vestidos e seus corpos não estão à mostra. São apenas algumas mulheres solteiras reunidas entre amigas em um domingo ensolarado aproveitando o principal logradouro da cidade. Não seria estranho se na segunda o único jornal local comentasse o assunto afirmando que elas deixaram os homens extasiados com seus corpos deliciosos por baixo de seus vestidos?

Quando falarmos das prostitutas, veremos como a moralidade estava sempre presente nos discursos que atacavam as “mulheres da vida” e exigiam a presença policial para acabar com os hábitos mundanos que envergonhavam os cidadãos. Infelizmente, apesar de considerar estranho, não tenho explicação de como, em uma pequena cidade conservadora, uma nota com esse teor sexualizado foi publicada há mais de cem anos e com essa naturalidade.

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