Mais ordem, menos saúde!

O governador Manoel Ribas agia sobre Paranaguá com ações fundamentadas pelos discursos da ordem e da saúde. No primeiro caso, as medidas governamentais quase sempre eram muito bem recebidas pelas pessoas de bem, afinal, o governo agia apenas sobre os desviantes das normas sociais, ou seja, incomodava somente bandidos e vagabundos. Agora, quando o assunto era saúde pública, as atitudes do governador nem sempre agradavam estes mesmos cidadãos exemplares, já que as medidas atingiam todo mundo e não apenas uma minoria delinquente.

Em 1935, o governo recebeu total apoio e muitos elogios ao criar a Colônia Correcional da Ilha das Cobras, “obra de grande alcance social” no que diz respeito à “infância, a delinquentes precoces, etc” e destinada a receber “menores delinquentes”.  A mesma empolgação não ocorreu quando o governador tentou erradicar a febre amarela na cidade alguns meses depois. Segundo o jornal “O Dia”, a equipe de funcionários públicos enviada para fiscalizar residências e destruir qualquer criadouro de mosquitos agiria de forma ríspida e violenta. Todo mundo reconhece a importância de se combater este “mal terribilíssimo – a febre amarela” (assumia o jornal), todavia os “mata-mosquitos” poderiam agir mais gentilmente. Indignados, uma comissão de moradores recorreu ao prefeito, mas Agostinho nada podia fazer. Por conta disso, “numerosas pessoas” procuraram a redação do jornal na esperança que Manoel Ribas intervisse.

Aprisionar crianças e menores – ao estilo Alcatraz – em uma colônia correcional no meio da Ilha das Cobras, não era considerado violento. Mas funcionários públicos fiscalizando as (bem provavelmente) insalubres (mas sagradas) propriedades privadas, ditando normas higiênicas aos proprietários e apontando a sujeira, era uma violência insuportável – mesmo sendo uma ação em defesa da saúde coletiva tentando erradicar a febre amarela! Não é de hoje esta contradição.

Por Alexandre Camargo de Sant’Ana

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