Vivemos em um momento no qual os populistas usam uma imagem falsa do passado para prometerem tempos melhores. Sem nenhuma prova, costumam afirmar que antigamente a vida não era essa bagunça. Haveria princípios morais e as pessoas se respeitavam mais. A corrupção e violência seriam muito menores, pois as autoridades mantinham a Ordem com pulso firme e mãos de ferro. Segundo tais idealistas, casos como a revolta popular pelo assassinato de João Alberto Silveira Freitas não passam de vandalismo de uma população avessa à Ordem e externando suas frustações ao depredar patrimônio privado. Poderia inclusive ser uma conspiração para alterar a Constituição e destruir nossa liberdade. Se fosse antigamente – quando a Ordem existia –, isso nunca aconteceria. Mas não é bem assim. Em 1934, após o funcionário do parque instalado na Praça João Gualberto assassinar um parnanguara com uma facada no coração, a população enfurecida fez justiça com as próprias mãos.
Impedidos pelo dono do parque de capturarem o assassino, os parnanguaras partiram para cima dos carroceis e pavilhões de lona incendiando tudo o que encontraram pela frente. Ocorreram até saques e “alguns indivíduos se aproveitaram para subtrahir objectos”. Quando a polícia chegou, o parque estava totalmente destruído: “estatuetas, jarras, apparelhos de porcelana, bonecas, etc, tudo jazia pelo chão espatifado, aos cacos”. Os policiais chegaram dando de tiros de fuzis para cima, causando mais pânico, confusão e correria. Rapidamente, encaminharam o criminoso à cadeia, livrando o homem da “cólera popular, pois falava-se em linchal-o”.
O jornal “Correio do Paraná” criticou o assassinato e a atitude da população, entretanto culpou a falta de policiamento, pois um lugar de jogatina é propício à confusão. Além disso, o jogo estava proibido e pelo certo tal parque nem deveria funcionar.
Por Alexandre Camargo de Sant’Ana
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