Este ano, o Domingo da Alegria – sempre o 3º do Advento – tem um tom profético: proclamar uma alegria iluminada pela esperança, a qual não despreza as pessoas que sofrem com descasos do governo, nem a dor dos familiares e amigos dos quase 180 mil mortos por covid-19, nem a insegurança dos que perderam o emprego e nem as consequências de outras situações anteriores à pandemia, mas que foram por ela agravadas. Ela, a alegria, nos permite caminhar de cabeça erguida e lutar cotidianamente pelo bem nosso e dos que nos rodeiam, incluindo os do bairro e da cidade.
Procurarei indicar alguns sinais dessa alegria profética presentes na Fratelli Tutti (FT), a última Carta Encíclica do Papa Francisco sobre a Fraternidade e a Amizade Social.
A alegria pode manifesta-se mais intensamente quando, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (GS 1 – FT 56).
Existe alegria quando se aceita que ninguém – nem um povo e nem o indivíduo – podem obter tudo de si mesmo: “Os outros são, constitutivamente, necessários para a construção de uma vida plena. A consciência do limite ou da exiguidade, longe de ser uma ameaça, torna-se a chave segundo a qual sonhar e elaborar um projeto comum. Com efeito, o homem é o ser fronteiriço que não tem qualquer fronteira” (FT 150).
A alegria vai brotando nos compromissos assumidos para “superar a amarga herança de injustiças, hostilidades e desconfiança deixadas” por conflitos. Isso pode ser alcançado unicamente “superando o mal com o bem (Rm 12,21) e cultivando aquelas virtudes que promovem a reconciliação, a solidariedade e a paz”. Deste modo a bondade, “dá uma consciência tranquila, uma alegria profunda, mesmo no meio de dificuldades e incompreensões. E até perante as ofensas sofridas, a bondade não é fraqueza, mas verdadeira força, capaz de renunciar à vingança”. E, citando Provérbios 12,20: “No coração dos que maquinam o mal, há falsidade, mas aqueles que têm conselhos de paz, viverão na alegria” (FT 243).
A alegria nos é dada pela “música do Evangelho” tocada em nossas casas (FT 277). A Igreja nada rejeita do que existe de verdadeiro e santo nas religiões, e ilumina as pessoas. Todavia, aos cristãos, ela recorda que, “se a música do Evangelho parar de vibrar nas nossas entranhas, perderemos a alegria que brota da compaixão, a ternura que nasce da confiança, a capacidade da reconciliação que encontra a sua fonte no fato de nos sabermos sempre perdoados-enviados. Se a música do Evangelho cessar de repercutir nas nossas casas, nas nossas praças, nos postos de trabalho, na política e na economia, teremos extinguido a melodia que nos desafiava a lutar pela dignidade de todo o homem e mulher”.
Quais seriam os outros motivos de alegria banhada per raios da esperança que nos ajudam a levantar cada dia e lutar pela vida, assumindo-a como um dom e compromisso e não como um peso?
Não deixemos que nos roubem a alegria!
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