Crônicas

Insônia materna

Imagine a seguinte cena: o gênio da lâmpada aparece para uma mulher, que está em casa, com um bebê recém-nascido nos braços e diz: “Você tem direito a um único ...

Imagine a seguinte cena: o gênio da lâmpada aparece para uma mulher, que está em casa, com um bebê recém-nascido nos braços e diz: “Você tem direito a um único pedido”. Ela, sem pestanejar, decreta: “Noites bem-dormidas, por favor”. 

Nesse momento, nem passa pela cabeça o desejo de comprar roupas novas, sapatos, bolsas, maquiagens ou viagens. Pode perguntar a qualquer mulher que acaba de fazer sua estreia na maternidade, e saberá: o que elas querem mesmo são noites de sono profundo. Esse é o sonho de consumo.

Aquele período relaxante, com a cabeça colada ao travesseiro e direito a sonhos com começo, meio e fim ficaram para trás. Agora, as madrugadas são para amamentar, trocar fraldas, fazer arrotar e embalar o bebê.

Claro que, como marinheira de primeira viagem, pensa que será uma fase. Sim, uma fase das muitas que estarão por vir, pois filhos deitam para dormir e a paz reina no lar. Mas lá pelas tantas, acordam com 38,5 de febre ou ainda, choram, têm pesadelos, cólicas, não suportam ficar sozinhos, querem água e pedem para fazer xixi.

Tempos depois, mesmo a criança com o ritmo do sono acertado, as mães continuam a despertar com um simples resmungar, com uma tosse leve ou com uma remexida na cama. Atire a primeira pedra a mãe que, achando que tudo corria tranquilo demais, não levantou no meio da noite e foi até o quarto do filho checar se a criança estava bem mesmo.

Quem foi que disse que encostar a cabeça no travesseiro novamente, depois de tantas andanças noturnas, seria garantia do retorno do sono? Seu filho dorme, seu marido dorme, a cidade está em silêncio, mas você não, fica ali olhando para o teto.

Aliás, mães não dormem, no máximo fecham os olhos.

Muitas demoram a perceber que ao ganhar o bebê, ganham também um ouvido com capacidade auditiva redobrada e olhos de lince. Em algum lugar do planeta, sempre haverá uma mãe vagando pela casa madrugada afora, no escuro, e com uma facilidade incrível para enxergar as coisas. 

Ah, as mães! 

E ainda quero registrar que tudo isso me ocorreu, precisamente, às 2 horas da manhã, numa madrugada de domingo, quando fui despertada com o ecoar da palavra “mãe”, dita pelo meu filho, acrescentando, logo em seguida, que estava com dor de ouvido.


Insônia maternaAvatar de Kátia Muniz

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.

Insônia materna

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