Os veículos oficiais de comunicação social, em tempos de fake news e redes sociais, passam pelo grande desafio de encontrar um caminho para levar informação com qualidade e credibilidade para o público. Dos meios de comunicação tradicionais às ferramentas digitais, que estão disponíveis ao grande público de forma mais abrangente, todos precisam lidar com as mudanças que não param de surgir.
No entanto, independente de audiência de um veículo ou outro, o que deve imperar é a informação responsável, aquela que cumpre o seu papel social. Sobre esse e outros assuntos, a entrevista da semana é com a secretária municipal de comunicação de Paranaguá, Camila Roque. A profissional promoveu, nesta semana, um evento inédito na cidade, a 1.ª Jornada de Comunicação, que trouxe jornalistas e publicitários para debater diversos temas com estudantes, universitários e imprensa local. Desta forma, a intenção da secretária é que o evento continue nos próximos anos para cumprir seu papel social.
Folha do Litoral News: Como surgiu a ideia de realizar a 1.ª Jornada de Comunicação?
Camila Roque: Antes, a Secretaria Municipal de Comunicação era um departamento do governo da Prefeitura de Paranaguá. Foi secretaria por um período muito curto e voltou a ser um departamento e, refletindo sobre isso, chegamos à conclusão de que não bastava ser apenas uma assessoria de imprensa, teria que ter um papel social como todas as outras secretarias de Meio Ambiente, Obras etc. Pensamos de que forma poderíamos contribuir também com a sociedade e, no dia a dia, vemos a dificuldade de se comunicar com as pessoas, às vezes, tem o retorno da população, as redes sociais hoje nos dão mais possibilidades. Mas, ainda assim, fica uma lacuna. Foi uma forma de entender o nosso público local, abrir um canal de contato com estudantes da cidade que hoje, pela nossa pesquisa, tem mais de três instituições voltadas para a área de comunicação, entre artes, educação a distância, jornalismo e publicidade, e também interagir com a imprensa local. Para nós, a comunicação não é apenas ensinar, mas também está se oxigenando a comunicação municipal, porque vêm muitos jovens e temos essa troca. Vemos o evento com uma contribuição social da secretaria.
Folha do Litoral News: Na sua opinião, qual o maior desafio dos veículos de comunicação hoje, levando em consideração tanto os mais tradicionais quanto as novas ferramentas que estão surgindo?
Camila Roque: Com certeza o maior desafio é a comunicação informal, feita de forma irresponsável. Sem desmerecer as pessoas que comunicam de alguma forma por veículos não formais. Mas a comunicação não responsável, acredito que seja a maior dificuldade, porque a gente vai lá, apura, leva um tempo para publicar e, às vezes, em menos de um minuto, o relato (não a notícia), está no ar de maneira totalmente irresponsável e a gente acaba pagando o preço junto.
Folha do Litoral News: O Código de Ética dos Jornalistas tem como base o direito fundamental do cidadão à informação. Você acredita que o leitor hoje filtra mais as informações que recebe por diversos meios?
Camila Roque: Eu acredito que a eleição presidencial deste ano, independente de resultado, mudou e está mudando muito a comunicação. Na verdade, ainda não entendemos muito o que vai acontecer daqui para frente, mas estamos sentindo essa mudança. O leitor, principalmente do impresso, tem aquele que é fiel, mas tem também aquele que se deixa levar pelas tendências da comunicação, mais digital, por grupos. O leitor fiel do impresso vai ficar cada vez mais fiel e o impresso vai ganhar cada vez mais espaço no decorrer desse tempo, devido à informação com credibilidade. Muita gente falando muita coisa sem credibilidade ao mesmo tempo, a gente precisa dar um passo para trás no sentido positivo e voltar a utilizar as mídias tradicionais.
Folha do Litoral News: Você acha que é papel dos profissionais de comunicação promover a educação para a informação, para minimizar os efeitos das fake news?
Camila Roque: Com certeza, uma das nossas preocupações, enquanto secretaria, com todos esses meios, tanto os tradicionais, como as tendências, e foi pensando nisso que convidamos a jornalista Silvia Valim para fazer a palestra sobre fake news na Jornada de Comunicação. É o tipo de função social que a secretaria precisa ter hoje, é uma das nossas preocupações, educar. Nós também convidamos para o evento estudantes que vão prestar vestibular e acredito que tivemos sucesso com esse público-alvo.
Folha do Litoral News: Quais as particularidades da atuação em assessoria de imprensa no setor público?
Camila Roque: Já passei pela área de audiovisual, por campanha política, que também é uma pressão muito grande, mas nenhuma atividade foi igual, todas contribuíram para a minha formação hoje. No setor público há a questão da pressão, devido à cobrança externa, tem uma autocobrança, pois exijo muito de mim, tem a questão da rotina, que não é normal, a todo momento tem alguém passando problema, sempre tem alguma coisa na cidade que não está certa. Por isso, vivemos intensamente e acredito que seja essa a diferença, com uma pressão popular mais intensa do que nas outras áreas. Além de divulgar, temos a responsabilidade de fazer acontecer, quando a gente é veículo a gente pergunta, responde, às vezes cobra, mas nesse caso também é responsável.
Folha do Litoral News: Como avalia a presença de profissionais mulheres na área de comunicação?
Camila Roque: Eu tenho certeza de que Paranaguá tem uma representação muito forte da mulher, principalmente na comunicação, e eu acho que Paranaguá não está inserida nesse contexto de desigualdade. É claro que tem outros setores e outras profissões nas quais isso acontece, mas na comunicação as mulheres estão muito bem no município. Acredito até que há um desequilíbrio positivo, porque estamos além. Mas não dá para parar por aí, temos que incentivar outras mulheres a alcançar esses postos, não só na comunicação, como em todas as outras áreas.