Coordenadora do Sistema Estadual de Transplantes explica como o trabalho é realizado
Em abril deste ano, o Governo do Estado divulgou que o Paraná é o Estado que está em primeiro lugar em número de doadores de órgãos, em transplantes realizados, em autorização das famílias e em busca por possíveis doadores.
Enquanto a taxa de doadores no Brasil foi, no ano passado, de 17 por milhão de população (pmp), o Paraná fechou o ano com índice 47,7 doadores por milhão, quase três vezes maior que o do País. E nos dois primeiros meses de 2019 o Estado já alcança 47,2 por milhão.
O resultado é fruto de um trabalho desenvolvido pelo Sistema Estadual de Transplantes do Paraná. A coordenadora do sistema, Arlene Terezinha Badoch, relatou qual a realidade da doação de órgãos, as principais dúvidas da população e a importância de cada cidadão manifestar para a família a sua vontade. Confira:
Folha do Litoral News: O Paraná se posicionou como o primeiro em número de doadores. Como foi possível alcançar esse índice?
Arlene: Os nossos números são impressionantes graças a um grande trabalho feito junto à população, com equipes muito bem treinadas, somos o Estado que mais realiza transplantes. Isso é ótimo, porque as pessoas estão recebendo os órgãos e voltando a ter uma vida normal.
Folha do Litoral News: Quantas pessoas estão na fila para receber órgãos no Estado atualmente?
Arlene: Nós transplantamos em torno de duas mil pessoas ao ano e todos os anos entram outras duas mil pessoas que aguardam por um órgão ou tecido. Por isso, a média é essa.
Folha do Litoral News: Existe uma espera maior por algum órgão?
Arlene: O rim é o órgão que mais transplantamos, porém a distribuição é por estudo genético. É a lista que mais tem pessoas aguardando. Porque o rim, quando não conseguimos o órgão, a pessoa se mantém viva, com o uso de diálise. Quando a situação envolve coração ou fígado, infelizmente se não receber os órgãos meses após entrar na fila, pode falecer. Não é o caso do Paraná, como temos uma grande oferta de órgãos, as pessoas saem da fila e conseguem o seu transplante.
Folha do Litoral News: Ainda existem muitos mitos sobre a doação de órgãos. Como as equipes de Central de transplantes lidam com as dúvidas das famílias?
Arlene: Nós temos equipes muito bem treinadas para dar ajuda aos hospitais, esclarecer todas essas dúvidas e trabalhar as recusas que muitas pessoas fazem por desconhecimento. Hoje, a educação continuada é um projeto do sistema estadual com profissionais extremamente capacitados para trabalhar a recusa e reverter esse processo.
Folha do Litoral News: Como os interessados em doar seus órgãos devem proceder?
Arlene: Quem doa é a família, não se deixa nada por escrito, por isso é importante comunicar aos familiares que você é doador. Caso ocorra uma morte encefálica e você possa ser um doador, a família será consultada e sabendo que você é um doador, a família doa. A família hoje está muito esclarecida e nós temos equipes que fornecem a ela todo o esclarecimento de dúvidas. O item que a família mais questiona é que durante a vida a pessoa não esclareceu que era doador. Por isso, é importante que a gente fale para a família.
Folha do Litoral News: Qual o procedimento dos hospitais para a doação de órgãos?
Arlene: Os hospitais que têm UTI e equipes médicas treinadas para identificar pacientes com morte encefálica fazem o protocolo, notificam a Central de Transplantes e o Sistema Estadual acompanha todo esse processo, finalizando o diagnóstico de morte, e quando o paciente tem condições de ser doador, é dada a oportunidade para a família fazer a doação. Se a família aceita, todo o processo é feito pelo Sistema Estadual, desde a identificação, de quem irá receber, até a logística de quem vai transportar. É muito complexo, envolve, normalmente, mais de 60 pessoas em cada procedimento.
Folha do Litoral News: Quando se constata um doador, quantas pessoas podem ser beneficiadas?
Arlene: Um doador pode doar até sete órgãos: coração, fígado, pulmões, rins, intestino. Dependendo das doenças prévias do doador, das doenças prévias que ele tinha, se faz o quantitativo de órgãos que ele doa. Todo o processo é pago pelo Sistema Único de Saúde, todo o diagnóstico, captação, mesmo que o paciente esteja internado em hospitais particulares, tudo é feito pelo SUS.
Folha do Litoral News: Algumas famílias têm resistência à doação de órgãos. Como ocorre o trabalho neste aspecto?
Arlene: Fazemos campanhas permanentes de educação continuada, mostrando a importância da solidariedade e a transparência em todo o processo e a credibilidade do sistema para que a família se torne doadora e para nós mudarmos a realidade brasileira. As pessoas que queiram conhecer mais sobre a Central de Transplantes podem consultar o nosso site (www.paranatransplantes.pr.gov.br), onde tem todas as informações pertinentes sobre o processo de atuação, transplantes, os hospitais que transplantam, os hospitais que notificam.